Um bolero não é um romance

Nem sei se mereço amor. Posso ser apenas mais uma dessas criaturas estranhas espalhadas pelo mundo que não sabem fazer jus ao amor ou sequer cuidarem de si mesmas. Pensando seriamente, posso me ver entre essas criaturas. Sou mais um na multidão que desce as ruas buscando um bolero para aquecer a noite, uma cadeira e uma mesa, um copo e um corpo, uma dança mais íntima, umas palavras mais desnudas… Uns passos rápidos, agilidade no corpo, o que será que não faz pela madrugada? Lá em casa eu tenho uma cama grande, mas se levar uma, duas ou três, ela ainda faz eco de tão vazia. Então, sou eu uma companhia por meias horas e que, antes de dormir, coloca em folhas algumas rimas sobre as curvas, os jogos de sedução, a música quebrando e criando o clima e a volta solitária para casa. 

Nem sei se mereço amor, repito.

O vento bate um pouco mais forte na janela e balança as cortinas. Isso é um “sim” ou um “não”? Eu mereço ou não mereço? Tranco ou abro a porta? Desvio ou encaro o olhar? Amo ou não, meu Deus?

Se eu desço mil ladeiras, é para encontrar algum amor – não é ele um imenso barranco? –, embora disfarce no meu passo protetor de mim mesmo. Embora enlace mãos que logo me despeço.

E agora vem o vento me dizendo qualquer cosia, dando um sinal divino ou brincando com a minha tolice.
A rima vai ficando sem endereço…

Amor?
Não, amigo,
eu não mereço.
A dança me enganou,
o romance não andou
o bolero me despedaçou.
Eu nem te conheço
(ainda).
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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