360°

Certo dia estava assistindo um programa de televisão quando uma pintora, se não me engano, falou algo intrigante. Disse ela que não sente medo de o mundo roubar o que é seu pelo fato de não se colocar limites, de trocar de lugar a todo momento a ponto de viver rompendo barreiras. De certa forma, o mundo não pode roubá-la de si mesma, pois vive rodando, não necessariamente por lugares, mas pela própria vida.

Quando parados, o temor é maior. A mente parada é um inferno, que dirá o corpo todo, os sentimentos, as vivências. Nós todos parados somos um atrativo saboroso e fresquinho ao drama e à tragédia, assunto que o programa em questão tratava. Somos suscetíveis a nos deixarmos levar. A rotatividade da vida talvez seja o escape mais generoso que podemos encontrar das armadilhas. Em outras palavras, regenerar o próprio ser deve somar bons pontos a nossa coragem de viver.

Estar em constante mudança sem perceber o que se faz: está aí um desafio. Propor a nós mesmos um novo lugar, uma nova visão, um nojo jeito de escrever ou pintar, cantar, comer, pensar... Novos jeitos de não pararmos nos limites que o mundo externo a nós segue a ditar como um general. Como, afinal, poderemos ser roubados e levados para um poço tão fundo se nunca estamos onde pensam que estamos? Se nunca paramos, como a infelicidade mais profunda nos achará? Ou então, se nunca paramos, como afundaremos sem volta à superfície? Sabemos voltar, mas nem sempre permitimos. Fora da zona de conforto somos muito maiores do que o espelho pode nos mostrar.

Não leve ao pé da letra. Não mude agora de cidade, de amigos ou amor. Não pense que está imune aos dramas e tragédias da vida, não está. Pode, porém, estar fazendo tudo girar.

Mover-se, romper-se, é tudo uma questão de ótica: pode ser até a esquina; pode ser até o outro lado do oceano. É se encontrar sem se deixar levar por um mundo tão pequeno que insiste em nos amedrontar como se fosse imenso. E nós, sempre parados, acreditamos.

Basta fazer a "roda" girar. Não há um ângulo que não nos reanime.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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2 comentários:

  1. Tudo gira, e o azar vem quando o mal para de girar e cai em nós.

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  2. (...) e que cansativo viver com a mesma eu todos os dias! A solidão da auto-invenção é a mais doce das solidões; tenho ao meu lado qualquer parceiro que eu consiga ser. É um desafio: é preciso sê-lo para tê-lo por perto. Daí a viveza de não me contentar com tão poucas opções de mim mesma que, se há algum tempo serviam, hoje só cabem espremidas num retrato da minha sala de estar. Daí toda a inspiração.

    link com algo que escrevi há umas semanas atrás. ;)

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