O texto é longo, mas a loucura é maior

Eles podem se resolver com a própria loucura. Por "eles", entenda "o resto do mundo". Eles, todos eles, homens e mulheres, baixos ou altos, gordos ou magros, brancos ou negros. Não faço distinção alguma no termo. O mundo pode se entender sozinho, é isso que eu quero dizer, e talvez ele nem queira se entender. O desentendimento, às vezes, também nos salva. Com a minha, eu me resolvo.

Em parte por loucura, em parte por sensatez, em cada noite sinto que posso aguentar mais uma. Ou nem sinto, mas acredito. Ou não acredito, mas aguento. Porque a gente nunca sabe da noite de amanhã; ninguém sabe das noites muito mais confusas do que os dias. Penso que loucura é achar que o dia é uma loucura, uma confusão sem fim. Mentira. Diz isso quem não fica acordado para encarar a noite. Assim é fácil, eu também conseguiria, se bem quisesse, mas não quero. E essa é apenas uma das minhas loucuras, mas nunca para mim, somente para quem vê e não entende.

As ondas de mesmice, caretice, chatice, tédio... Onde vão todos parar? Eu (você já sabe) não pararei. Atravesso pontes que não ligam a nenhum lugar, durmo sob estrelas que se escondem atrás das nuvens e mergulho em piscinas sem água. Não faço ao contrário por livre e espontânea vontade. Quando vejo, o beco já ficou sem saída. A culpa é sempre da rua que parece muito bonita e cheia de rumos lá no início. E deixa, deixa que eu tire a culpa de mim, porque se colher todas que ficam espalhadas pelo caminho, o peso me para.

Há quem tenha a loucura de querer morrer jovem para que a imagem que ficará na memória dos vivos seja aquela livre de rugas, jovial e intacta. Eu me pergunto quem é mais louco: quem insiste em morrer jovem pela estética ou eu querendo viver mais e cheia de marcas por motivos desconhecidos? Engraçado é quando dizem "ah, a gente morre e pronto, não sente nada". Como se sabe? Será que não se sente nada? Eu costumo acreditar que sentir é uma condenação humana, desde o nascimento até a morte, desde antes até depois. Não se está livre dessa condenação fácil assim, a não ser que você decida morrer no Brasil, aí a história é outra e não vem ao caso.

A gente deixa de ser feliz de um lado para ser feliz de outro, procure reparar.  E dizem que isso é normal, quem vai dizer que não? Loucura pode ser concordar, pode ser discordar.

O mundo tem essas loucuras. O preto, branco, magro, gordo, alto, baixo... Diferem-se para fora e se assemelham para dentro. Eles se resolvem, eu não tenho dúvidas. Ou morrem sem saber, o que também não tenho dúvidas.

Eu não me resolvo. Resoluções são duras. Sou bem mais a loucura.

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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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2 comentários:

  1. Adorooo seus textos,muito lindo e de uma inspiração incrível!Também adoro escrever assim como você,e na maioria dos seus textos vejo que não sou a única que ve o amor dessa maneira.
    Gostaria de te pedir para você fazer um texto sobre o amor entre amigos,antes eram melhores amigos e depois perceberam que se amavam além de amizade.Por favor se puder escreva,desde já agradeço !

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