O amor não cala: ele grita


Quando o amor não fala, ele grita. Quando o amor se cala, ele grita, escancara, abre o leque de olhares, gestos e rituais: o lado da cama, o café com três colheres de açúcar, a flor preferida, o perfume no lençol, a saudade pela sala. O hábito que não fala: grita.

Quando o amor cala, é a canção mais bonita que algum beatle não conseguiu escrever. É o poema de Drummond que ficou unicamente na imaginação. É a valsa de casamento que toca no primeiro encontro. São os sinos da igreja marcando o destino na cabeça de um apaixonado. Quando o amor cala, é o grito mais perdido ou achado de um casal. É o par ou ímpar do futuro, o sim ou não do altar, o “até que a morte nos separe”, o “para sempre” que não se tem coragem de jurar, ou que se jura na inconsequência do ato. É a inconsequência do ato, calado.

Ver o outro passar, ver o outro chegar. É amor gritando de amor na chegada e na partida. É amor gritando “fica”. É o bolo que se deixou pronto às 11h para quem só chega à noite. É o casaco novo porque ela disse que gosta daquele estilo. É o cabelo mais escuro, é a pasta de dente nova, é o horário ajustado ao do outro, o sorriso que se desconhecia, o sonho da família, a desistência da boemia. É a vida assim ou assada, colada. É o grito dos gestos mais aflitos. Falar sem precisar dizer. Errar a palavra e consertar o silêncio.

Amor, se precisasse falar mais do que o grito de emoção, não seria amor.

É o gol de campeão que a torcida comemora imóvel.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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