Sobre o livro mais amor dos últimos tempos


Você lê o livro sentindo que conhece aquela história e aqueles personagens. E conhece mesmo, é só parar e pensar: logo você se vê no Park ou na Eleanor, porque eles são tão confusos quanto os amores que cruzamos pela vida. Eleanor & Park reinventa a teoria de que os romances tem finais prontos e melodramas enjoados.

Esse é o tipo de livro que nos lembra que nem tudo é tão bonito, mas, de outras formas, ainda pode ser bonito, e nos dá o tapa na cara em seguida lembrando mais um detalhe da vida real: depois de uma coisa boa vem uma coisa ruim e uma coisa boa e uma coisa ruim e assim para sempre. E por que você precisa tanto ler? Porque ele não é mais livro para encher prateleiras de clichês. Ele é costurado palavra por palavra para contar uma história que eu, você aí e milhares de pessoas que nós conhecemos podem viver dadas as devidas modificações.

Se você passou da fase de ter paixonites, vai se lembrar delas, não importa a idade que tenha. Se você sempre foi o esquisito da escola, vai entender os dois personagens. Se você já gostou tanto de alguém a ponto de sair correndo sem parar até que deixe de sufocar, esse livro é para você. Se você é adolescente, então esse livro também é para você. Se você, pelo contrário, não é mais adolescente e nem gosta de romances bobos para adolescentes, esse livro é perfeito para você. Se você gosta de histórias de amor, leia já. Mas, se você não gosta de romance, se não acredita em finais felizes, também sairá contente. Sabe a história de "algo que reúna todas as tribos"? Esse é o livro que reúne todas as tribos.

Entre outras palavras, é um livro sobre como você se olha no espelho, ou então sobre como a sua família é conturbada. É um livro sobre não saber falar o que sente ou a vontade de sumir. É sobre The Cure e Smiths ou X-Men e Watchmen. É sobre a sua mãe apanhar. É sobre uma garota ruiva que passa pela vida de todos nós ou um garoto que tinha tudo para estar entre os populares, mas não está. É sobre não entender coisa nenhuma do ir e vir dessa vida.

Eleanor & Park é tão especial que é aquele meu livro que eu me desapegaria para dar de presente em algum caso extremamente único - quase um sacrifício para mim. Deixaria nele um pouco do meu cheiro impregnado pelas páginas, minhas digitais invisíveis, alguma marca ou outro tipo de rastro. Na primeira página escreveria a dedicatória mais carinhosa: "o livro mais amor dos últimos tempos para um amor além dos tempos". Coisas bonitas assim. Porque poucas coisas me ensinam tanto quanto a literatura que me adivinha sem eu ter me confessado.

Li milhares de outros livros antes e depois desse, é verdade. Mas nem 90% tem a malícia e, ao mesmo tempo, a ingenuidade desse. Nenhum deles dá tapas com tanta sutileza e nem nos deixa com um final tão possível para a vida aqui fora no nosso dito "mundo real". Nenhum deles tem uma ruiva de pele bem clara e um garoto que só se importa em emprestar quadrinhos para ela. Nenhum deles fisga tão bem quem nem gosta de falar sobre amor.

E, se você ler até o fim, vai descobrir que o livro mais amor dos últimos tempos faz isso: nos conta que o fracasso também é amor, e vice-versa. "É mais uma história de amor", você pode dizer. E sim, é. Mas a gente nunca sabe como acabam essas coisas, não é? 

Ah, e segundo li no Papel Pop, uma boa notícia: o livro deve virar filme em breve.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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