Do verbo que não queremos


Eu não quero precisar de você, porque eu sei o que isso significa. Sei também o que falam por aí, o que dizem os milhares de textos e opiniões. Já li e escutei quase todos eles, as teorias, as coisas todas. Mesmo assim, eu ainda não quero precisar de você.

Quando acordar, que o seu bom dia seja consequência do nosso carinho, não necessidade. Quando sentir saudade, que seja apenas saudade, não necessidade. Quando te procurar no meio de um dia cinza que seja apenas o nosso cuidado, e não necessidade. Que eu te queira, que você me queira, mas que eu não te precise.

Lembra aquela vez no verão que eu senti que precisava muito de você e abandonei todos meus amigos na festa pra bater na porta da sua casa? Você achou graça, mas brigou comigo porque chovia. Você disse que também precisava falar comigo, mas que achou errado atrapalhar minha noite. Por mais que tudo tenha acabado bem ali, nós sabemos que isso não acontece sempre assim.

Precisar dá medo, entende? Vou precisar saber como foi a sua festa sem mim, e vice-versa, até que um de nós fale demais e acabemos caindo num buraco sem fundo, porque combinamos que essas coisas não seriam discutidas. Vou precisar de você no meio da noite e minha cabeça birrenta de criança não vai entender que não dá, que não é assim. Vou precisar correr até aí pra te abraçar no meio da semana e não dá, não vai dar. Precisar não estava em nenhum dos nossos acordos. Quando vê, até meu humor vai precisar do seu "bom dia" para aparecer e, convenhamos, não dá.. Assim não dá.

Porque precisar é o inferno de quem gosta. Precisar é sentença de morte. É dor aumentada em dez na hora que tudo termina. Precisar é martírio, é drama além do real, é incompreensão. É ultrapassar uma barreira que nem eu e nem você queremos.

Precisar é como te confessar que eu posso largar tudo e te procurar agora na loucura do meu dia. Mas aí você precisa precisar também. É uma confusão que não cabe no português.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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