Suspiros sequenciais


Duas alas distintas de um hospital: uma marcava a vida e outra marcava a morte. Num quarto, dor do parto, lágrimas de esforço combinadas com a emoção da vida ganhando forma. No outro, dor da perda de quem era deixado, lágrimas do esforço de não poder lutar contra.

Duas vidas em particular, isoladas, que sentiam mais do que qualquer um em volta. Uma vida iniciando, escrevendo os primeiros traços no seu livro e com asas ainda imperceptíveis, ainda sem saber o jeito certo de sair do chão, mas já com o olhar inundado de sonhos. Um olho forte, grande, olho de quem “capta sonhos”. A outra vida fechava um ciclo. Sim, um dos muitos. Agora transcenderia, largaria as asas e viraria vento, invisível e presente, forte, calmo, como bem entendesse. Um início e outro fim - aparente.


Foi uma simples questão de segundos entre uma história e outra, um suspiro e outro. Dois suspiros tão extremos e contrastantes. Sabe-se lá onde cada um deles iria dar. Na ala triste – vista a comoção em torno do enfermo -, houve um último suspiro em vida. Um adeus, uma partida, um reinício ou um voar agora livre. Aquele corpo atrelado a vários fios suspirou derradeiramente, e não haveria medicina que o trouxesse de volta. Às vezes, tem-se que ir, por isso, ele foi suspirando e alargando os lábios por uma última vez como quem diz: vou em paz. E foi.

Na outra ala, onde se exalava uma felicidade e celebração pela vida – pelo que ninguém compreende, mas comemora –, dez segundos após o suspiro da vida que tinha fim, surgia o primeiro da vida que se iniciava. Exatos dez segundos. O tempo de um coração cheinho parar e outro ainda vazio vir ao mundo. O tempo de viver e morrer. Aqueles olhos sonhadores e a boca pequena entraram em sintonia: um fechava enquanto o outro emitia um calmo suspiro. Nasceu calmo, e pronto para se jogar com asas e braços no tormento em que era aguardado.

Os ciclos que se iniciam e se fecham, e para onde um foi o outro também chegará um dia. E não se sabe o que se encontra – nem em vida, nem em morte. Um hospital cheio de dor, dor do amor que vem e que vai, do abraço que surge e do abraço que some. Dor de viver e voar. Um morre para outro nascer. Um aduba a terra onde o outro vira muda. Numa sequência de suspiros, um cede as asas ao outros.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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1 comentários:

  1. Olá! não importa qual será o suspiro, estamos sempre suspirando por algo, seja por: tristeza, alegria, medo, confiança, morte, alegria são tantos suspiros em nossas vidas, que o melhor é que a cada dia que vencemos, que superamos nossos desafios, podemos suspirar mais uma vitória uma dádiva de Deus.

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