Monotemática

As bolsas de apostas em Londres estão em polvorosas. Os mendigos desse Sul brasileiro estão congelando a cada noite. A Coréia do Norte está irritada com a troca da bandeira nas Olimpíadas. O mundo está preocupado: há fome, bomba atômica, guerras de vozes e egos. Alguns estão querendo saber: a tal da Kristen traiu mesmo o tal do Pattinson? Uns estão buscando consertos para si, enquanto outros estão errando com gosto. Percebo que há um mundo lá fora, mas me perdoe se hoje, especialmente hoje, eu pouco leio os jornais, revistas, assisto noticiários ou pego conversas de filas de ônibus no ar. Me perdoe se hoje, mais um vez, o assunto é você.

A cidade não para, e daí que é domingo? Há sempre luzes acendendo, corações ardendo, portas batendo, textos rimando. Há sempre uma prosa nova para se pautar. Eu continuo antiga, clichê, desesperadoramente feita para falar de saudade, do amor explícito no dia-a-dia. Quando falam de mim, percebo, falam que eu falo de amor. Releve a redundância e pense comigo: eu lá sei o que é isso? Talvez sejam os seus olhos, o seu sorriso, as suas palavras… Talvez seja nada do que um dia eu poderia saber. Porque, se nasci assim, devo morrer assim: falando do que desconheço. Romantismo vai e volta, pede licença, atropela, me enche de jargões que eu sinto quase vergonha de escrever/falar, mas não me abandona. E olha que eu sou tão feita de silêncio…

Eu sento no sofá e tento entrar por alguns minutos na sintonia do resto do mundo. As preocupações, notícias, novidades, escândalos, fugacidades ou não: eu estou revendo os meus temas. Mas, diabos, por que fui nascer assim? Que eu pudesse falar mais sobre a mala largada no canto do quarto, o menino chorando sem motivo no colo da mãe, o senhor que me contou metade da vida dele, o pesadelo de alguma outra noite ou a felicidade de alguma rara manhã! Que eu pudesse trocar o assunto… Mas não. Eu nunca posso. Eu tenho um sangue amargo, mas umas palavras que inflamam querendo ser doces. E não digo nem que não e nem que sim, saiam como quiserem sair. Eu nunca escolhi os termos que leem por aí.

Tudo isso é você. Por quererem saber e eu não dizer, é você. Por se perguntarem se é ficção ou realidade, é você. Por estarem atentos ao mundo e eu aleatória aos acontecimentos, é você. Por não saber dizer, mudar o tom, revirar a escrita, diferenciar os verbos ou diversificar os assuntos, é você.

A monotemática dos textos, é você.

Ps: não me agradeça; eu ainda guardo um tanto para dizer.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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