O que não se conta por aí

Deve ser alguma tendência ao masoquismo, sei lá. Eu tenho uma mania de observar todo mundo, desde o olhar até a forma como a boca se mexe, as mãos, o jeito de caminhar, cumprimentar. Enfim, detalhes. Sempre me prendi a eles e deixava a minha cabeça viajante demais vagar por aquelas observações adquiridas nos meus golpes de olhar, discretos ou não.

Ocupada em olhar, mal falava. Engraçado é o fato de que eu não ficava me questionando exatamente sobre o que fazia aquela pessoa sorrir, qual era a felicidade dela, se ela tinha pessoas que amava ou não, se ela se aceitava ou não. Eu sempre busquei os vestígios de tristeza, medo, cansaço, traumas. A parte escura, confesso. O que tira o sonos delas? O que as faz recuar? O que as ameaça? Quais palavras elas temem escutar e quais despedidas elas querem esquecer? Qual o trauma que fortaleceu aquele sorriso? Qual foi o amor ou amigo que não foi tudo isso? Quantos sonhos o mundo passou por cima? Afinal, qual é o ponto fraco daquela criatura?

A maioria das pessoas é muito mais interessante quando se descobre o fio da meada de alguma história escondida. Entendiantes são os felizes 24h por dia, e me perdoem, mas não chegam a atiçar minha curiosidade. Um olhar que foge é sempre mais curioso, falo isso conhecendo muito bem a causa que defendo, sabendo que as retinas guardam memórias demais. Quando as mãos tremem e quase ninguém percebe, é o um dos momentos mais interessantes de alguém. Não é para ser herói ou vítima da história que guarda em si, mas apenas para "ser", cada um conforme os seus conformes, diferentemente.

Se eu conseguisse pelo menos desvendar metade dos interiores que tento, isso completaria um livro, uma trilogia, enciclopédia, qualquer coisa numerosa. Descobrindo o mundo dos que passam pela rua nos abanando com satisfação, daria uma história muito mais incrível do que dois vampiros apaixonados ou uma guerra em outros tempos ou planetas.

Não é o futuro, nem o passado e muito menos o presente. Aqui dentro não existe tempo, é tudo cedo ou tarde demais, sem muito meio-termo e uma bolha gigante de dúvidas e poréns prestes a estourar. Mas não estoura. E é aí que os detalhes nos acusam. E é aí que eu gosto de observar… E imaginar. Descobrir.

Aquelas histórias que não se lê em jornais... Há sempre um gosto de vida.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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1 comentários:

  1. Que lindo!
    Você escreve tão bem moça, me identifico muito com teus textos.

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