Um jantar, uns assuntos teus e umas ligações minhas



Pelo o interfone o porteiro me avisa: você está subindo.

Eu arrumei tudo? A mesa, os copos, os talheres, a comida? Será que tudo está pronto? O meu cabelo, a minha roupa, a barba por fazer: tudo em ordem? Sorrio. Não sei ainda qual o motivo doido de precisar excessivamente da sua aprovação. Não sei ainda, ou finjo não saber, na verdade, eu tenho medo de admitir que venho esperando muito por você.

A campainha toca. Pelo olho mágico eu tento ter a minha primeira visão para não ficar logo como um babaca na sua frente. Homem é babaca frente a uma mulher vestida para um jantar desses, mesmo que seja nesse apartamento que eu já decorei os cantos todos. Isso que você nem sabe dos copos novos que comprei especialmente para hoje... Passada a primeira tentativa embaçada e distorcida de te olhar, abro a porta e lá está você, mexendo loucamente numa mini bolsa que parece guardar o mundo. Quem diria que o meu primeiro olhar iria diretamente para o seu jeito e não as partes descobertas da sua pele?

O jantar decorreu bem, eu sei que tudo deu certo. Sei, porque você sorria enquanto eu, atrapalhado, quase deixei tudo cair no chão. Porque você me contou daquelas histórias de quando ficava sozinha com o seu pai e o quanto se divertiam. Porque eu, pela primeira vez, contei para alguém o quanto chorei na primeira noite morando sozinho. E sou um homem, homens não contam essas coisas. Eu te contei, e soube que tudo estava muito bem. Saímos da mesa e continuamos nosso assunto no sofá. De vez em quando você se perdida no próprio riso, dando a entender que eu a fazia bem. Faço? Me peguei querendo fazer.

Daqui a pouco o assunto era casamento. Não, ainda não era o nosso – inexistente –, mas sim dos famosos. Você começou a falar que é o ano das "bruxas". Como? Não é o ano em que o Corinthians foi campeão, finalmente? Então você cita Katie Holmes e Tom Cruise, o carinha aquele dos filmes. Cita o Johnny Depp e alguma mulher que esqueci, pois consigo lembrar apenas dele como um pirata que eu queria ter sido e não fui. Depois fala daquele de Bruno Gagliasso, o "bonitinho de olhos azuis" com a tal da Giovanna Ewbank. Diz que ele traiu ela, engravidou outra, "um absurdo!". E eu concordo. Troca o assunto para traição. A Kristen traiu o coitadinho do "Rob". Ah, sim, os vampirinhos aqueles. "Você perdoaria?", ela me encara. Ah, meu Deus, qual a resposta certa? Elas sempre fazem isso, engrenam mil assuntos para chegar num ponto de xeque-mate desses. Eu sempre caio! Quando respiro fundo para pensar, você mesma já responde: ele merece coisa melhor! Claro, merece sim. Então você termina falando dos "Beckham". Eu falo do jogador de futebol e você diz que ela melhorou muito como ex-Spice Girls. Pronto, já me perdi. E você acha graça de todos os paralelos loucos que eu traço, enquanto eu sorrio de quanta fofoca uma cabeça feminina pode armazenar.

Eu passo a gostar dos seus assuntos mesmo que me perca neles e caia em todas as suas armadilhas. Sou a vítima perfeita para alguém como você, que calça um belo par de sapatos, um vestido meio-comportado-meio-ousado e um sorriso capaz de desarmar durões já me deixa nervoso quando o interfone toca e ainda nem acabou de subir pelo elevador.

Você diz que precisa ir embora. Eu me proponho a te levar e me diz que não precisa, está com o seu próprio carro. Imaginei você ouvindo uma música animada enquanto dirige de volta para casa e cantando sozinha no carro, mal sabendo dos mil acidentes que pode causar, dos mil corações que faz parar. Inclusive o meu.

"Tchau, até mais."
"Eu posso te ligar amanhã?"
"Eu devo mesmo esperar?"
"Deve."

E o pior: realmente deveria.
Um beijo. Dois beijos. O terceiro e primeiro beijo.
Perdido em mil assuntos de mulher, eu dormi.

No dia seguinte? Sim, eu liguei.
E depois, e depois, e todos os dias.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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