Vá se perder!

Queria me enjoar de você (Horto Sessios #1) by João Bernardo on Grooveshark

Não me diga que vale a pena se perder de si por qualquer coisa. Não aumenta o drama, não me convença de que o arranhão na ponta do dedo dói mais do que o dedo sendo prensado na porta. Perder-se é tão simples que parece comum, mas não é. Vazio é se perder sem ter por, como ou em quem.

Vá se perder no outro. É, no outro, não me interessa quem é o seu "outro". Perca-se naquele sorriso enigmático, decore ele, o que diz, o que pede ou o que esconde. Perca-se na marquinha escondida no braço direito, pergunte-se sobre ela, descubra. Perca-se no sonho do outro, viaje com ele na loucura, adentre o mundo novo. Perca-se na tarde de domingo entre os cobertores no inverno mais bonito que já passou e a neve nem precisou cair. Perca-se também no calendário, não precisa lembrar se é janeiro ou julho: perdido você está e perdido quer continuar. Perca-se nos olhares também perdidos, aflitos, felizes, convidativos, claros ou escuros: suas histórias e seus planos. Perca-se na voz cantando "depois de você os outros são os outros e só", porque é bom, é bonito, é você e só. Perca-se na sensação de estar partindo, mas descobrir que tudo é uma grande chegada, ou vice-versa: perca-se na lógica e na dúvida do outro. Perca-se na paixão, que seja vermelha, rosa, azul, verde: nas cores que viram amor quando se misturam e perduram. Perca-se no jantar à luz de velas, que é brega, mas tudo já está tão perdido que fica romântico. Perca-se na música que fala por vocês, na foto colocada no fundo de tela do celular, na primeira carta, no primeiro abraço, no último segundo lado a lado. Perca-se na vontade de ser de novo e outra vez tudo o que são juntos.

Não me diga que se perdeu de si sem mais nem menos. Não me diga que não há luz no fim do túnel, a vida é uma viagem cara e inútil, o preço da gasolina subiu, o salário diminui, a chave de casa quebrou, o imposto aumentou, a alegria se foi e você não aguentar mais ser um ponto deslocado no mapa. Para o drama. Sozinho é tão triste se perder.

Venha me dizer que você se perdeu no outro, com o outro, pelo outro. E nunca mais quer se achar. E que voltando pra casa ontem reparou que ficou por lá... exatamente lá. Perdido e achado.

Perca-se a ponto de escrever sem entender como o início combina com o fim. Sem o mapa dessa emoção, mas com um ponto de referência para esconder a cabeça.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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