Eu lembro, mas eu não volto



Acho que existe uma diferença entre sentir saudade e querer voltar no tempo. Isso é uma das coisas que anda ocupando bastante minha cabeça ultimamente. Apenas sinto saudades, mas não quero voltar no tempo. Acho que isso acontece porque o presente, no fim das contas, é bem melhor que o passado. Algumas coisas eu superei, outras eu entendi, outras simplesmente aceitei. É assim que as coisas são, nem tudo a gente aceita ou entende, é uma coisinha de cada vez, cada uma a seu modo. O tempo passou, talvez rápido até demais, e olhando para a minha vida hoje, eu vejo a dimensão das coisas. É que quando tudo vai acontecendo, não percebemos o quanto aquelas pequenas mudanças no dia a dia vão acabar definindo uma grande parte de nós. Eu me vi no meio de muitas dessas mudanças e não enxergava o quanto elas seriam importantes, até porque ninguém pode prever as coisas ou as surpresas que vão surgir pelo caminho. Analisando tudo que foi acontecendo, eu sei que estou onde deveria e queria estar. Nem tudo são flores, nem todos os dias eu acordo achando a vida uma maravilha e nem todos os meus conflitos internos estão resolvidos, mas, definitivamente, aconteceu o que tinha que acontecer.

Acho ruim a gente ficar carregando uma mala inteira nas costas de remorsos, mágoas, mentiras, decepções... O melhor é esquecer e superar tudo, claro que é, mas nem sempre é possível e fácil como na teoria. Existem coisas que a gente vai passar a vida inteira remoendo. Eu tenho dessas coisas, infelizmente. O engraçado é que mesmo com essas cargas que o passado me trás, eu sinto saudade dele. Sinto que sou capaz de me pegar sorrindo quando lembro de algum fato bom que aconteceu, de como as coisas eram e até imaginando como seria hoje se nem tudo tivesse se perdido. Mas as coisas, as pessoas, os sentimentos e as histórias, acabam se perdendo na confusão que fazemos da vida. Muita coisa ficou perdida. Muita história ficou para ser contada de diferentes ângulos. Tem muito passado abrindo um buraco de saudade aqui dentro. Não é exatamente um falta, uma necessidade de ter tudo aquilo. É “só” saudade, como se ela fosse essa simplicidade toda que quase nem dói. Pelo contrário, tem dias que dói até forçar uma lágrima boba.

A questão é: se me perguntarem se eu gostaria de voltar no tempo, respondo que não. Eu precisava de todos esses tapas que a vida me deu, de todas as quedas que tive, os erros e tudo mais. Eu precisava que o tempo passasse para eu aprender que cada momento tem o seu tempo, que eterno mesmo é só aquilo que fica na mente e no coração da gente. Tudo que a vida me dá hoje foi suado demais. Todas as pessoas que foram e voltaram, custaram muito para mim. Eu não trocaria o meu agora. Não consigo impedir que certos pensamentos ainda me liguem ao passado e que a saudade bata de vez em quando, é uma guerra perdida para mim. Queria jogar fora toda a parte ruim e ficar só com a boa, mas não dá. A gente cresce e aprende na marra que as lembranças não são selecionáveis e nem sempre vamos ficar só com a parte feliz da nossa história. E assim, ironicamente, mesmo com as partes negativas, o passado foi tão bom que ainda me dá saudade. Acompanho de longe esse filme que passa às vezes pela minha cabeça de tudo aquilo que vivi. Sorrio feliz, porque a vida é isso, essa saudade do que passou e essa vontade de seguir em frente.

Sou emocionalmente frágil desse jeito. Até imatura por não deixar tudo ir embora facilmente e ainda me manter calada, como se nada mais existisse em mim. Um baú cheio de lembranças fechado quase a sete chaves e uma alma inteira de saudade. Mas, acima de tudo, um desejo incansável de sempre produzir mais e mais saudades para o futuro.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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