A minha biblioteca inteira

“Você sabe como é essa coisa de escrever, não sabe? Acho que já lhe falei sobre isso… As palavras vem vindo com força e quando vejo formam um texto inteiro. Tudo meio sem sentido querendo fazer sentido. Hoje, mais uma vez, foram vindo palavras aos montes na minha cabeça e acabaram em um texto para você com muitas e difíceis palavras. Mas não te mostrarei nem lerei. Poderia fazer um livro para você de tantas palavras amontoadas que nunca te mostrei. Escrevi e reescrevi você - e nós - umas infinitas vezes. Éramos bons, bonitos e felizes na maioria delas. Éramos nós, o que mais precisaria? Se te escrevo, é para me leres, mas sei que nunca te permito esta ousadia. E você por acaso gosta de ser esse meu livro inacabado? Você gosta de ser essas minhas palavras sem sentido? Porque eu te gosto assim, sendo o meu livro. Eu te gosto juntando as palavras. Eu te gosto terminando uma frase com um afago seu. Eu gostaria muito de ser o seu livro também. Mesmo que você não escreva, gostaria de ser as palavras sem sentido na sua cabeça. É bom e saudável ser o livro de alguém. Passar na cabeça de alguém e trazer essa sensação de que as palavras nunca serão exatas o suficiente. Mas elas são. De alguma forma, elas são. E você, brincando de ser as minhas palavras preferidas, deixa o meu texto sempre descontente quando me falta. Você mora nos meus textos mais complexos. Eu sei, eu realmente sei que há muitos moradores nos meus textos. E você também sabe o principal: para morar nos meus textos, antes de tudo precisa morar no meu coração. No meu - seja no texto ou no coração - moram poucas, mas indispensáveis pessoas, inclusive você. Nunca se exclua - do mundo, da vida, de mim, do meu coração. Quando escrevo para me seguires, é porque também te sigo. Quando escrevo para me falares, é porque também quero te falar. Quando minhas palavras ficam mudas de saudade, é porque me fazes falta. Gosto de te ler também. Ler os teus olhares, gestos e sorrisos. A possibilidade de ler não se encontra somente nas palavras, mas, principalmente, em cada pedaço de você que eu possa enxergar solto no mundo. Então, saibas que és o meu livro preferido. Não se esqueça disso. Não esqueça que tenho palavras demais para você. Às vezes me perco ao nos transformar em palavras, mas quando te acho, logo me acho e posso finalmente nos achar. A magia disso tudo é que podemos ser poesia, crônica, romance, tragédia, diálogo, dissertação, narrativa, frase ou o que quisermos mais. Podemos ser uma biblioteca dos mais incríveis gêneros. É isso que és: a minha biblioteca. Te guardo em meio a prateleiras altas, com um pouco de poeira e um tanto de carinho. E como os livros, as palavras, os pensamentos e uma biblioteca, você é assim, aquilo que o tempo não apaga. É essa coisa boa que eu corro na alegria e na tristeza como jura de casamento. É essa coisa que atormenta e acalma. É você. É o livro que não canso de escrever e reler. É o ponto final que eu sempre alongo como reticiências. Deixa eu ser o teu livro também, e nada mais.”
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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