Uns passos dados



Às vezes um passo pequeno nos leva longe. Outras vezes um passo grande nos faz recuar. Eu, particularmente, acho que os meus passos assumem diversas idades, tamanhos e importâncias. Uma criança até os seus quatro anos ainda possui passos em falso e com pouca firmeza. Começam engatinhando até ganhar força e confiança suficiente para ficarem de pé. Aos nove e dez anos todo mundo corre e pula muito mais do que caminha pausadamente e com passos pequenos. Depois que se ganha firmeza para ficar de pé, nenhuma criança quer andar devagar. Na adolescência os passos são um tanto contidos, desconfiados, trôpegos, confiantes, cegos. São passos contraditórios. De ida e volta. Na vida adulta é meio irônico. São passos firmes, confiantes, com um ar de quem sabe tudo da vida. Mas são falsos, escondem um medo enorme e uma desconfiança incrível. De certos e firmes eles não tem nada. Depois, lá pela terceira idade, os passos ficam cansados, mas experientes. Necessitados de auxílio e descanso. Mas, ironicamente, costumam esconder muitos passos arrependidos – sejam os dados ou não dados.

Os meus passos ainda são uma mistura de todos eles. Por mais que eu acredite que misturamos todos durante a nossa vida, os meus andam misturados demais. Em alguns dias falta firmeza; pareço engatinhar ainda. Depois, pensando estar protegendo-me de não sei bem o que, assumo a falsa confiança de um adulto desconfiado. Arrisco uns dias leve como se ainda tivesse uns nove anos, mas suponho que perdi o jeito. Passo a passo, com um misto de pressa e cuidado, eu também tropeço bastante. Não vejo os buracos, ou os vejo e ainda sim caio neles. Não importa muito a quantidade de passos dados ou por quantos lugares diferentes eles andaram. Nascemos engatinhando e tropeçando e passaremos a vida inteira com a sensação de que nunca aprendemos a andar completamente sozinhos e com passos firmes. Não raramente, as pernas ficam bambas e os passos em falso nos enganam.

O valor de caminhar, seja a passos largos ou curtos, é fazê-los por um objetivo. É saber que fazer disso uma obrigação é desperdício de vida. Há certos passos que eu não sei bem por que os dei. Há outros que eu quis e permaneci estática. Vai além da coragem, da experiência. Vai do coração. Do momento. Invejo as crianças que pulam, correm e andam despreocupadas. Invejo quem pode escolher entre andar e ser carregado no colo. Confesso que invejo sim. Porém, não há colo a vida toda. Não há quem nos carregue para sempre. E por mais que alguns passos sejam interrompidos por tropeços, há sempre um novo chão esperando o nosso “passar”. E gosto de acreditar que ainda conseguirei andar sem esconder nada por trás do compasso do meu passo.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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