Nos contrastes de um aeroporto


No terminal de embarque eles se despediam. Ela brigava consigo para ser forte demais e não cometer o egoísmo de pedir para ele não ir. Sabia que ele precisava ir. Ele não queria deixá-la por nada neste mundo. E se ela o esquecesse? Se conhecesse outro que aguentasse melhor a TPM dela ou que não visse tanto futebol? Não que o amor fosse fraco, mas justamente por ser tão forte e grande, tornava-se inseguro. “Não me esquece”. “Não tem como te esquecer”. “Volta logo”. “Calma, eu não aguentaria muito tempo”. Com mais lágrimas do que previa, ela deu o último abraço nele e ele tocou delicadamente a boca dela. Foi um toque de “até logo”. Amor que um aeroporto separa e tratará de unir daqui uns meses novamente. Amor que encontrará abrigo em fotos, telefonemas, lembranças, cheiros, presenças ausentes. Amor que vai, mas fica. Despedida.

No terminal de desembarque a mãe esperava ansiosamente. Uma filha nunca é do mundo. É para sempre da mãe. Essa mãe em especial sabia que sempre dividiria a filha com o mundo, mas nunca a sentiu menos cria sua. E lá vinha a filha. Dois anos depois, roupas novas, mala nova, o cabelo mais brilhoso e o mesmo e vibrante sorriso que tinha desde o primeiro dia em que nasceu. Abraçaram-se forte e a mãe já não disfarçava o choro. A filha, que guardou muito choro em dois anos vagando pelo mundo, também chorava. Lágrimas misturadas de um amor que é incondicional. Por cada canto que passou, a filha trouxe algo que lembrava a sua mãe. Nas noites em que passava sozinha admirando o céu em algum quarto de hotel pelo mundo, desejava um colo que somente a mãe poderia dar. E agora, após dois anos, teria seus mimos outra vez. Toda independência que morava em si não apagava a necessidade do amor da mãe. Amor cheio de cuidados, preocupações e perdões. Amor de mãe e filha. Reencontro.

Nos contrastes de um aeroporto, onde tudo chega e parte, o amor se fez moradia.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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