Uma vida de sustos



É costumeiro: passamos por uma situação de riscos ou vemos alguém que amamos passar e resolvemos dar valor à vida e às pessoas. Com quem isso nunca aconteceu? Pior ainda: com quem isso não vive acontecendo?

A nossa é feita de sustos. Às vezes eu gosto de pensar que se não fossem eles, não saberíamos o valor de viver ou de ter aquela determinada pessoa ao nosso lado. Mas não é errado? Quer dizer, como assim precisamos quase morrer para termos consciência de que estamos vivos? Estar vivo, por si só, não deveria ser a consciência? Ah, mas não é, nunca foi! O amanhã nunca foi garantia para ninguém, não importa se você preparou toda a festa de casamento, se combinou de jantar com as amigas, se vai para a tão adiada viagem ou se deixou para o próximo o dia a ligação para alguém. Não importa nada. Quando a vida quer aprontar, ela apronta! E os sustos talvez sejam para isso: lembrar a nossa cabeça avoada de que não temos certezas. Lembrar cada um de nós do quanto somos pouco e imediatos.

Vemos uma arma apontada para nós e passa um filme inteiro na nossa cabeça. Ficamos a um centímetro de entrar num caminhão e só pensamos no que faltou fazer. Descobrimos que a cirurgia quase deu errada e ficamos querendo dizer o quanto amamos todo mundo e agradecer por tudo. A vida é uma sucessão de sustos e quase idas, que, no fim, querem apenas nos ressuscitar. Mas será que nós sabemos ressuscitar? Será que somos capazes de seguir amando e vivendo sempre mais porque o amanhã é essa incógnita maluca?

Nem todo mundo que está de pé, está vivo. Nem todo que vive em constante risco de morte, está morto. Há diferenças entre um corpo que vive e um que sabe dos sustos da vida. Há diferenças entre quem levou um susto e aprendeu e quem leva sustos consecutivos e morrerá sem realmente aprender. A gente vive de sustos para aprender que a vida, embora trabalhosa, é a nossa vida, sem direito a remarcar passagem ou deixar para a próxima. A vida não é um jogo onde ficamos uma rodada sem jogar: toda jogada vale um momento a mais.

Afinal, de quantos sustos precisamos para viver?
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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