Foi o Drummond que falou!

Olha, mãe, foi o Drummond que falou:

“Para que você quer ser poeta? Tudo o que você pensar em escrever em matéria de poesia, alguém, antes, já escreveu melhor do que você será capaz de escrever. (…) Mas se, apesar de saber que não vai fazer poesia melhor do que os que vieram antes de você, mesmo assim você sentir uma necessidade absoluta de escrever, então escreva. Provavelmente, você será um poeta."

O Drummond é poeta demais, mãe, é crime ir contra as afirmações dele. Então é isso, o Drummond disse que sou poeta, que essa vontade absurda e que me consome por dentro para escrever compulsivamente, é poesia. Veja só, mãe, eu que escrevia redações no colégio sobre o meu caminho de casa até a aula e fazia versinhos que rimavam coisas bestas, sou poeta! Sou, gostei de afirmar que sou! Você entende por que, mãe? Sou poeta porque, ao fim das contas, eu vivo! Ah, isso eu faço: viver. Escrevo como vivo.

A partir de agora, somos muitos. Somos um clã de poetas que escrevem sobre o que já se escreveu e não se sairão melhor do que os que já cravaram o seu nome na história da literatura, mas somos poetas porque vivemos e precisamos vomitar. Somos poetas por não sabermos como o ser. Somos um bando de poetas mal interpretados!

Agora sou poeta porque escrevendo tudo isso, minhas palavras sequer possuem andamento, conclusão ou fundamento. Poeta por necessidade. A gente poetiza a vida, sabe, mãe? A gente poetiza por ela ser ruim ou boa demais. Por ser morte e vida, lotada de extremos. Por ser indefinida, como todos nós que somos cheios de indefinições. Eu gostei de ser poeta, mãe! De agora em diante, veja-me assim: poeta. Veja-me errando as palavras, pulando linhas, arrancando as folhas, falando com as paredes e escrevendo com uma loucura consciente. Poetas são loucos, mãe, louquinhos! Pode me incluir aí.

Ah, mãe, eu já fugi tanto de ser poeta. Já anulei demais as minhas próprias palavras e emudeci, fiquei sem voz. Fiquei um tempo incontável com a garganta presa. Foi horrível demais, ninguém me salvava. Então, mãe, eu aceitei: somente as palavras me salvam. Acho que, se permitimos, elas salvam todos nós. Nem que seja para pegarmos uma folha e escrevermos algo que não rime, uma palavra que exprima tudo de nós, mas nos tornamos poetas por querermos escrevê-la.

Veja como nasci, mãe: o piano me acalma, o café me acorda, a noite me inquieta, o escuro me assusta e as palavras me salvam! Sou poeta, mãe, eu nasci com a poesia na ponta dos dedos, incompreendida e mal escrita, exatamente como eu. Foi tu quem me criou, mãe, e agora precisas aceitar as minhas poesias e palavras atrapalhadas.

Foi o Drummond que falou, mãe: eu sou poeta!
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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1 comentários:

  1. Perfeita!!! Muito perfeita!!

    Adoraria escrever assim... Cada vez que vejo textos assim, eles me encantam, e me mostram que sempre poderá existir pessoas ta boas quanto Drummond ou Cecilia!!!

    Parabéns!!

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