Do seu carteiro

De quantos romances és feita, dama? De quantas histórias vives refugiada? Quantos outros vivestes além de mim? Presumo isso pela falta de respostas, pelo silêncio que me vitimasse. Nenhuma carta, visita ou recado. Nem sinal de fumaça você tentou fazer para chegar até mim. Estás perdida? Conte-me, eu te acho. Há um exato mês eu espero por notícias suas, mas não chegam. Você não chega. Ah, dama bonita, não faça meus dias mais feios, não entristeça a parte minha que sorriu por te ver surgir.

Uma vez por semana eu cumpria a minha tarefa: deixava-lhe uma linda e cuidadosa carta para que o seu dia começasse bem. E, na próxima semana, a expectativa ganhava força maior. E você respondia, dama, você me mandava bilhetes vagos e pequenos vezes por semana e consigo agora me recordar de um em especial. Você escreveu de uma forma que posso imaginar suave segurando a caneta e suspirando ao fim: “querido, o parque não teve a sua feição hoje; ele não me deixou sorrindo e nem querendo mais, o que só me faz lembrar que você é o parque mais florido, encantado e bem situado que eu poderia conhecer; visite-me, sinto falta de suas histórias e seus gestos calmos.” Está vendo? Você respondia e pedia por mim, tal como eu que sempre pedi por ti, dama minha.

Daqui a pouco é Natal e não posso descer pela sua chaminé; você não a tem. Não posso esperar a neve em sua janela, pois não abres mais a porta. Não posso montar a árvore, afinal, quebrastes todos os enfeites há tempos atrás quando a falta de amor lhe fez mal. Fico aqui questionando ao espelho: quem mais seria o carteiro dela no Natal? Sei a resposta, dama: todos outros gostariam de ser o seu carteiro o ano todo. A sua casa viraria a central do correio sem você precisar mover os lábios. És dama de mim e dona de todos os corações apaixonados desta cidade. Ainda sim, insisto em ser eu o teu carteiro.

Receba minhas cartas, suspire ao ler as minhas palavras e me convide para a ceia de Natal. Não destrua o nosso dezembro, logo o ano novo vem nos esperançar outra vez. Não venha dizer que não deixei cartas na caixa de correio da sua casa, e não a limpei devidamente quando a lama da chuva a encobriu. Não venha dizer que eu não era o teu carteiro preferido.

Eu era o carteiro do seu coração.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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