O jardim que nunca floriu

5 de dezembro de 2011.

Aqui nunca existiu jardim. As flores morriam quando respiravam por mais de dez minutos o ar poluído vindo deste interior. Aqui, até o jardim mais artificial morreu. Aqui, tudo o que nasceu, tendeu a morrer. E não foi por porretes ou armas, mas com as próprias mãos, palavras e olhares encharcados de raiva. Foi com o próprio ser.

A minha mão lateja. Não por construir jardins, pegar a enxada e limpar a terra. Latejam por bater em paredes que tapam o solo fértil, como se fossem sair do meu caminho e me deixar florir o que é apenas cimento; cinza e duro. Mas não saíram. Nada moveu-se um centímetro sequer.

Há espinhos, aos montes. Às vezes, identifico-me com a resistência e sobrevivência deles. Em tais condições, são os únicos que conseguem se manter por aqui. Quisera eu ter um estoque de água para quando a seca me invadisse, quisera eu! Contudo, espinhos são espinhos: estão ali para também machucar. Um toque inesperado e pronto: a ferida já está exposta. Ah, são espinhos demais expondo as feridas daqui!
Essa semana choveu. As poucas flores – que não são suficientes para formar um verdadeiro jardim – animaram-se todas, mas logo caíram em si e viram que era apenas ilusão de que viveriam um tempo a mais. A chuva, que inicialmente deu vida, afogou as flores e invejou até os espinhos.

Aqui nunca teve jardim. A terra nunca colaborou. Aqui o coração não vive florido, transformou-se num cemitério de rosas, onde nem os pássaros visitam mais. Não há muito o que dizer, o jardim sempre foi sonho e nunca realidade.

O regador furou,
A flor broxou,
A chuva perdurou
E o amor?
A-ca-bou.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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