Dramas de amor

– Você não vai morrer por mim.
– Quem disse?

Ela sabia como questionar, mas não era isso, não isso que ela entendia, que eu queria dizer. Obviamente ela poderia se jogar na frente de um ônibus por mim ou outras dramaticidades do tipo, assim como eu faria por ela. Éramos cheios de exageros como um verdadeiro romance de Shakespeare.

– Olha, você não entendeu... Eu quis dizer que você não vai morrer quando eu sair para trabalhar. Você não vai morrer quando eu for comprar pão na esquina. Você não vai morrer quando eu for cantar sozinho na varanda. Você não vai morrer sem mim, entende?
– E se eu morrer?
– O caso é: você não morrerá.
– E se você morrer?

Eu ria com as proposições daquela menina. Era como se todo olhar fosse o último, como se todo beijo fosse despedida e cada abraço o último toque. Era como se eu fosse escapar das suas mãos num piscar de olhos. Ela sempre dizia alegremente que a vida acabava e puft!, tudo se perdia. Com ela era tudo agora, e esse ritmo me fez entrar na dança mesmo sem saber os passos.

– Você me arranca risos com essas hipóteses...
– Você não pode rir dos meus medos! – ela baixou a cabeça aparentando tristeza.
– Você tem os medos mais românticos... – consegui vê-la tentando esconder um sorriso com a minha afirmação.
– E se eu ficar sozinha?
– Minha flor, eu sou todas as coisas em sua volta.
– E dos domingos, como serão?
– Ah... Você acordará por volta de onze horas e abrirá as janelas. Se houver sol, almoçará no jardim. Se houver chuva, almoçará ao som dela. Depois lerá um livro ou passeará pelas ruas pensando em subir nas árvores mais altas. Comerá uma fruta e um doce, para não cair na mesmice de ser uma coisa só. Ao fim do dia irá pegar uma foto minha e dirá que eu sou um burro por estar perdendo muito da vida. Soltará um riso de menina e dormirá porque a semana continua.
– Sem você?
– Bobagem... Eu estou em você, em todas as coisas, já disse!
– Não vou saber viver sem você!

Agora ela chorava, eu via que ela chorava. Drama bobo, medo real, mas distante... Todo dia ela me perdia para a vida e me ganhava segundos após. Todo dia, para ela, eu morria e ressuscitava. O amor alcançava os seus limites mais ilógicos. E eu era dela, todinho dela, sem querer comprar pão, trabalhar ou fazer visitas que me tirassem de perto dela. Eu fui derrotado pelo amor, levei uma surra que me deixou de cama sendo cuidado pelo próprio soco: ela. Mas eu gostava, adorava, amava saber que a minha dor era ela, porque se a dor não for quem se ama, não há de valer. Ela valia por todos cortes, quedas e arranhões. Valia por todos os medos de viver, como só ela sabia viver e temer.

– Você vai, menina... – eu a convencia entre risos.
– Tudo bem. – levantou o rosto já seco das pequenas e disfarçadas lágrimas. – Vá comprar o pão!
– E se eu morrer na esquina?
– Você está em todas as coisas.

E logo ela sorria e cantava pela casa, certa de que eu nunca morria nela. A nossa loucura era cheia de sensos de amor: completamente justificável.
Compartilhar no Google Plus

Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
    Blogger Comment
    Facebook Comment

1 comentários: