Filme ou vida real?

Gosto muito de filmes, desde a forma como são feitos até o produto final. Assisto todos os gêneros indo de um terror até uma comédia ridiculamente infantil - inclusive filmes verdadeiramente infantis. Filme é para rir, chorar, aprender um pouquinho ali e aqui, distrair a cabeça ou até pegar no sono. Nos últimos dias, porém, observei que gosto de algo em particular nos filmes.

Vou usar de quatro exemplos imediatos para lhes fazer entender o que incrivelmente me fascina em algum filme. Posso falar primeiro de "500 dias com ela", um filme sobre o amor, de certo, mas um amor que não era o amor, que deu errado, que não era o ponto final. Sim, ao final cada um achou o seu amor, mas o foco não era esse, era o sofrimento do personagem Tom por perder Summer, que ele tanto idealizava como a mulher dos sonhos. Fala do amor que não deu certo, mas mesmo assim encontrou final feliz, simples! Depois, lembro-me de um dos filmes que me faz derramar rios de lágrimas, "Uma prova de amor". O que impressiona e pode causar revolta é que a menina que tinha leucemia não sobrevive. Ou seja, a família passa todo um processo de dor pela doença ao longo do filme e ainda enfrenta desavenças com outra integrante da mesma. O foco, novamente, é a dor, o que não deu certo: a morte, a maneira como a menina não aceitava mais querer ser salva por saber que precisava ir. Final feliz na última cena com a família reunida, mas a falta da irmã, filha e sobrinha que não resistiu. O próximo é "V de Vingança". Bom, quando Evey é salva pelo misterioso mascarado, não imaginava a reviravolta que a aguardava. É perceptível que a mesma chega até a descobrir que se apaixona por aquela figura que a sequestrou e manteve presa, revelando verdades antes ocultas. Mas o mascarado morre. Evey não consegue salvar a pele dele, ou seja, termina feliz com a sua história, mas houve a morte, a dor, a perda, nada disso foi poupado. Por fim, penso também no filme "Um dia". Apesar do livro superar o filme, acontece nele uma coisa incrível, uma morte que separa dois amores de vinte longos anos que acabaram juntos muito tempo depois. Interrompeu um amor. Final feliz depois, mas novamente em partes, com faltas.

O que eu quero dizer? A nossa vida está contida nesses filmes: final feliz, em partes. Porque eu, honestamente, detesto filmes típicos de final de novela: mil casamentos, mil nascimentos e vilões simplesmente capturados. Não! A vida não é assim. Na vida hoje somos o mocinho, amanhã o vilão, hoje estamos alegres, amanhã levamos uma rasteira. Somos como a menina que não superou o câncer, como o Tom que se descabelou pelo amor - em tese - errado, como dois amores que a vida separou com a morte, como o mascarado que não pode salvar a própria pele e foi o bom e o ruim da história. Somos realidade, e aqui, na realidade, as coisas não fluem como em histórias encantadas. Elas ficam pela metade, perdem-se, fingem que vão nos matar e nos deixam vivos e assim por adiante. Na realidade ninguém pega leve.

É por isso tudo que gosto desses filmes em especial, desse tipo de filme onde nós estamos inseridos e as coisas acabam com um tom de felicidade, mas é impossível tirar o foco da dor. Afinal, por mais feliz que sejamos amanhã, quem tira o foco da dor de hoje? Quem recupera o que perdeu? Quem possui duas chances? Quem é ferido sem ferir? Quem não perde um amor, um amigo, um familiar? A dor não sai do foco da vida, mas isso não anula os finais felizes. Mas felizes são os momentos que vem e nos levam um pouco para passearmos de mãos dadas, não a vida inteira. Nada mais clichê: felicidade é um estado de espírito.

A nossa vida é um filme do que não deu certo. Ela também dá certo, eu bem sei, mas ela não dá apenas certo. Ela dá certo após dar bastante errado, com umas pancadas na cabeça e pisadas no coração. Mas há, ali no fim da cena de cada um, uma felicidade em aberto; um final de cinema real. Somos uns protagonistas bem distraídos.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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