A resposta

– Eu vou dizer algo, mas não quero a sua resposta. Posso?
– Pode.
– Eu te amo.

Dito isso, tocou-me delicadamente os lábios. Não queria respostas, eu sabia, havia escutado perfeitamente bem. Dela, eu aprendia a escutar até o silêncio. Porém, mais adiante naquela mesma noite, eu iria acabar desacatando tal ordem.

– Você me perdoa? – questionei em meio a uma troca de olhares.
– Perdoar? Por você não me amar também?
– Não... Você me perdoa por não saber dizer? Por não saber merecer?
– Você não precisa desses perdões. Você...
– Espera! - – interrompi. – Eu preciso. Você não quer respostas, eu sei que você não quer. Você, aliás, nunca me pediu nada além dessas noites calmas, dos cafés quentes pelas manhãs antes de virarmos cada um em uma esquina diferente dando início ao nosso dia. E faz tempo que o nosso dia se encontra, não podemos negar. Quer dizer... Você surge no meio da tarde, lá no meio da minha reunião enquanto alguém diz que é melhor corrermos o risco, mas eles falam de negócios, eu que me perco no raciocínio. E logo mais penso que vou jantar sozinho desta vez e não quero, eu não lembro as quantidades de uma comida solitária, apesar de ter sido sempre solitário. Você invadiu a minha rotina. Acontece que quando te olho forte indo começar o seu dia, vejo agora a mulher frágil que deita na minha cama e pousa a mão sobre o meu ombro. Eu vejo você e não é mais como eu vejo outro "você" no mundo. Mas eu? Por que eu? Se fugi tanto, se neguei, se me joguei à bebida velha da geladeira noite passada e recontei meus romances passageiros? Por que eu? De certo, você não me escolheu. Olhe bem em volta: há papéis velhos que não vão para o lixo, há roupas que ainda seguem com o perfume de outros dias e há ainda esta janela que nunca quero abrir. Há eu, que pouco sei do resto. E você. Você distingue, entende? Você não é do meu mundo, não do meu! És real porque te provei, te toquei, te olhei, porque a tua carne chama a minha. És sim real, mas longe de mim. Eu não sei dizer nada, nunca soube. Quando era pequeno, minha mãe conta que eu a olhava por diversos minutos antes dela sair para trabalhar. Depois de algumas semanas, ela entendeu que aquele meu olhar calado era mesmo carente, eu queria apenas um beijo antes de vê-la sair. Mas eu não pedia, eu nunca pedi nada. Eu sempre temi os gestos de amor, talvez por nunca ter tido a conveniência de distribuí-los. O meu coração é vagabundo, você sempre soube, eu nunca escondi a minha imperfeição. E até hoje acreditei ter nascido para ser assim mesmo: sem moradia. Mas você me habitou. Droga, você insistiu em me habitar! E não entenda essa revolta como um desagrado, mas como uma culpa que sinto por fazer tanto pesar dentro de você. Você merece respostas, todas aquelas que eu não sei lhe dar, aquelas que alguém solto na vida provavelmente já treinou muitas vezes, mas eu jamais. Só que... eu preciso te responder. Eu gosto que você me ame. A minha resposta é essa: eu realmente gosto que você me ame.

Depois de sorrir com o canto da boca, ela respirou fundo e me falou:

– Não fuja.
– De você?
– De nós.
– Eu desaprendi a rota da fuga.
– Então mora aqui...
– Sempre.
– Você me perdoa?
– Por me amar e não saber? Sempre.

Ela merecia uma resposta.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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