Apenas um relato bobo

     
     Bom, ele (um rapaz desses que anda pela rua) dizia que não poderia amar, era impossível, “essas cosias não acontecem todos os dias”. De súbito o chamei de amargo. De cabeça fria o compreendi.


    Contei a ele sobre mim, disse que nasci amando. Quando o médico me colocou em suas mãos e pude escutar o choro emocionado de minha mãe, eu amava sem poder ainda abrir os olhos. Depois, veio o resto da família: amei cada um que tocou na minha pequena e frágil mão prometendo segurança. O tempo foi me maltratando, quem te vê nascendo nem sempre quer te ver vivendo. Mas amei, acima dos “não quereres”, amei. Um amigo que me traiu: amei. A melhor amiga que me humilhou: amei também. O namorado que foi embora: amei. As pessoas que sorriam, as surpresas que chegavam, as conquistas que somente eu sabia, amei cada uma dessas coisas, físicas ou não. Porém, não era fácil amar, lembrei a ele. Sabemos que somos sensíveis quando o primeiro dos abandonos bate na nossa porta. Trancar-se é opção e há partes da minha fechadura que ainda não souberam destruir. Mesmo assim, vou colecionando amores de abandono.


    Descobri alguém na vida, descobri uma paixão no peito, descobri uma mão para segurar. Descobri pessoas e sonhos que arrebataram o meu coração para si. Eu não tenho mais jeito, não me acerto mais: sou irrevogavelmente uma pessoa apaixonada.


    Então, eu terminei dizendo ao rapaz que o amor é a maior mentira que sai das nossas bocas, mas lembrei que somos todos amantes como Cazuza: “mentiras sinceras me interessam”. Eu nego que amo, tu negas que amas, ele nega que ama. Nós negamos, em todas as pessoas e tempos verbais, nós negamos e renegamos o amor. Mas bem que uma mentira dessas cai bem no nosso coração… E o compreendi por saber que, de fato, não podemos amar, mas amamos mesmo sem saber, sem poder, sem querer, pois amamos como nascemos: sem escolha.


    Porque essas coisas que não acontecem todos os dias, vez em quando acontecem e nos levam. Ninguém deixa feijões ou pão pelo caminho para saber como voltar. Ninguém nos avisa que será preciso voltar; o amor é uma estrada só.

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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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