O não-feito/dito/escrito

Talvez as pessoas que amamos nunca entenderão a maioria das coisas que escrevemos ou dizemos a elas e tudo o que sentimos e fazemos continue injustificável. No íntimo de cada um, sabemos quanta coisa fazemos e até abdicamos, mas o outro não sabe de nada.

Quando escrevemos cartas, elas tem algum significado especial. Costumam dizer o que a nossa voz não pode ou não consegue, e palavras são sempre importantes quando expostas de jeitos especiais. Quando uma folha inteira é tomada por rabiscos aparentemente sem sentido e causa brilho ou arrepios lá em quem recebeu, é porque foi tudo bem feito e os sentimentos foram colocados muito além de cada letra. Entretanto, nem sempre aquilo que pretendíamos dizer é entendido conforme o nosso roteiro. As coisas podem tomar outros rumos no meio do caminho.

Quando falamos olhando olho no olho, fica tanta coisa não dita... O diabinho surge na nossa orelha dizendo que vamos ser mal interpretados, afinal, sempre somos. E há erros de má interpretação que custam uma vida inteira de saudades e feridas.

A vida não é exata, logo, o que queremos mostrar é mais inexato ainda. Ninguém sabe que você passou por cima de mil orgulhos para telefonar. Ninguém sabe que foi preciso dizer um "adeus" para dizer um "olá". Ninguém sabe que você se recuperou do choro em dez segundos para fazer sorrir. Ninguém sabe que você cancelou três compromissos importantes para correr e ajudar o outro. Ninguém sabe que você quis dizer "sinto a sua falta", "eu te amo", "gostava de como tudo era antes", "vamos nos perdoar?". Ninguém sabe o que fazemos dentro de nós ou o que dizemos somente para nós. Ninguém precisa saber, mas é importante que se sinta. As más interpretações, os medos, as inseguranças, tudo, tudinho nos pega de jeito. E ficamos sempre com muita coisa mal explicada porque nós, na verdade, torno a dizer: somos sempre injustificáveis.

Não sou capaz de falar metade das palavras bonitas que guardo para muitas pessoas. Não sei se você me entende, mas dizer palavras bonitas não depende somente de nós. Porque o outro precisa entrar na sintonia, sentir como nós, receber da mesma forma que estamos enviando. Entende isso? As palavras precisam fazer valer, e nem sempre me arrisco a desperdiçá-las.

A gente nunca sabe qual gesto ou palavra salva ou estraga tudo. E a vida sabe ser traiçoeira.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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