Por que eu?

Eu tinha algumas muitas palavras para você e venho querendo falar todas elas, mas falar de um jeito sem interrupções, apenas falar. Porém, seria difícil conosco, pois você não iria se conter e acabaria por exclamar muitas frases que mudariam o rumo das minhas. E se eu perder o rumo outra vez, meu bem, voltarei a me calar.

É tudo tão difícil, mas eu sei, não deveria ser. Eu não tenho muitas opções com você. Posso falar, falar e falar, mas você não entende nada, não capta as minhas mensagens no ar, não decifra os meus códigos cheios de olhares e intenções. Você não me interpreta e eu viro um livro cheio de páginas ou rasgadas ou em branco. Não me comovem os rasgos e a branquidão. Comovem-me os preenchimentos, as linhas bem escritas, os traços desenhados, as frases sendo juntadas. Comove-me você.

Neste exato momento, diria baixinho que eu não sei qual maldita rua cruzei que me deparei com os teus olhos puxando uma coisa clara de mim, algo que devia estar adormecido há muitos anos. Por que você vive andando sem mim, visitando paisagens de cinema sem segurar a minha mão e respirar fundo, comemorando aniversários a mais sem o meu presente especial? Por que você é sem mim? E por que me deixas sem ti? Eu devo agradecer por me abandonar mais uma vez?

Tipicamente, alguma coisa aconteceu. Daqui vejo você sendo alheio a mim, aliando a sua vida a uma dor qualquer de outro alguém, enquanto eu, displicente, não sei mais te ver de outra forma. Odiei você por um dia ou dois e sigo tendo alguns relâmpagos de ódio, mas passa, logo vai e me invado com a imagem do teu sorriso que ainda não descobri o segredo.

Mas não há de ser nada. Tudo isso, tudo o que guardo e nunca escutas de mim, não há de ser nada. Há muito amor morrendo precocemente. Como é que dizem? "Cortar o mal pela raiz." Que seja já. Se não pretendes me escutar e nem ficar, que seja. Não venha até mim por deduzir que sou eu a opção mais fácil. Você não sabe o quanto esse avião ainda pode desviar até a porta da sua casa.

Eu vou dormir, meu bem. Sei que exatamente nesta hora estás a dormir. Vou também. Se não aguentas o mundo de olhos abertos para encarar o que fazes, quem sou eu? Por que eu preciso aguentar ele sem os teus olhos? Por que eu, meu bem?

Me joga fora e não me testa. Eu sempre repito na vida.

É que ainda não entendi... Se não você, por que eu?
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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