Tem-se lá algumas intimidações

Há muitas coisas que me intimidam na vida e acredito que seja assim com todos nós. Não sei ao certo se temos tempo para desbravar tudo o que somos ou nos desafiar. Durante muito tempo fui intimidada pelo que escrevo.

Há pessoas que contam facilmente de si e se escancaram ao mundo. Para mim isso funciona diferente. Não sou a pessoa tímida no canto da sala, mas teimo em não ser a inconveniente "aparecida" e pago lá os meus preços. Acredito que todos acabam por se expressar de alguma forma característica, e a minha, após me intimidar por muito tempo, é escrevendo. Tive sempre muito medo, a escrita é a minha parte escondida, aquela que não falo, preservo, guardo, salvo de um jeito ou de outro. Em voz alta sou pouquíssimas coisas; escrevendo eu sou mundos inteiros. Isso dá medo: mostrar-se assim, dá medo. Porque pior do que desnudar a própria alma, é ver as interpretações que isso provoca. Nem sempre sou o que escrevo e outras vezes sou muito além, mas as pessoas interpretam como querem interpretar. E se há algo que sempre me intrigou em aulas de literatura, foi exatamente isso, essa mania de querer descobrir "o que o autor quis dizer". As verdadeiras intenções são reservadas demais.

Dias atrás li uma crônica antiga da Martha Medeiros, chamada "Jogando pôquer com Burroughs". Ela fala um pouco sobre a questão de algumas pessoas se exporem demais, enquanto outras sabem aproveitar o momento de sucesso para colocar em evidência os seus talentos, trabalhos e afins, atentando para a necessidade de sabermos fazer isso. Em dado momento ela cita William Burroughs ao dizer "arrisque quando estiver vencendo, desista quando estiver perdendo". Usou disso para mostrar que não é crime querer ir em frente, usar das cartas que se tem em mãos para fazer as coisas darem certo na vida. Não adianta se esconder, em outras palavras. Foi uma lição dura para mim desde sempre.

Se escrever é um dom natural, um talento que aprimoro ou apenas um vício bobo? Ainda não me decidi. A vida, talvez, já tenha decidido por mim e algum dia descobrirei. Não sei onde desaguará esse meu rio de palavras e sempre tive medo de mostrar ao mundo tudo isso e dizer nas entrelinhas o que sou, passo, sonho, vejo e sinto. Fui intimidada a me colocar para fora de algum jeito e eis aqui ele: entre palavras.

O que estou fazendo disso tudo? Arriscando. Quer dizer, Burroughs sabia mais do que eu, certo? Pode não haver um livro meu sequer nas prateleiras do mundo e posso vir a descobrir a banalidade que é essa minha escrita cheia de irregularidades, mas hei de arriscar. Burroughs, perdoe-me se eu não desistir, há intimidações que preciso vencer.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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