O final é mais bonito...

 Parece que a vida me deixou perplexa. Se “perplexa” não for o termo exato, receio que seria “anestesiada”. Não importa, a vida tirou metade da minha sensibilidade enquanto trazia um balde inteiro de água fria. De certa forma, mando aqui os meus agradecimentos por estar de pé. Porém, revendo o meu lado fraco, lamento pelas perdas.

 Ouço pelos cantos que faço aniversário mês que vem. Murmurinhos, pois ninguém acusa falar alto das minhas celebrações frustradas. Os presentes? Acumulo todos no coração e me perdoem vocês se aqui, por vezes, esfria demais. Dizem que entro de vez na casa dos vinte e poucos anos. Será? A conta não está errada? Não é cinquenta ou mais? Ah, sim, esse é o peso da alma. Vai entender quando dizem que uma data vale para contar a vida.

 São anos de segredos, quando renovarão o meu cofre? Que me presenteiem com um para mais vinte anos, presumo que ainda há muita coisa para ser chaveada.

 Perplexa ou anestesiada como estou, posso não ouvir os apitos e cantos de parabéns. Estou ainda de mãos dadas com o passado, não é fácil me situar no tempo, visto que ele me engana rotineiramente. Pedi para fazer sentido e me enviaram um quebra-cabeça de recordações. As peças não se encaixam.

 A vida me deixou e não sei bem como a deixei. Há nas minhas lembranças outras vidas querendo morrer. Em poucos anos fui coisas demais e não falo aqui da louca, da quieta, da falante, da sensível ou da insensível: falo é da escondida. Pode ser que algo me detenha pelo caminho e redescubra a minha forma simples, traçada apenas pela calma. Na marca exata de seis meses não me aquieto num abraço para me permitir fragilizar. Afinal, qual desses aniversários valerá mais?

 Você leu bem? A vida jogou sujo. Mas leia novamente: a minha persistência é bem mais suja.

 Eu ainda posso me ouvir, apenas não gosto dos sons que emito.

 Um “parabéns a você” a nossa força, que faz aniversário todos os dias.



(Eu ainda vou sentar num belo sofá, rir das notícias do jornal, diminuir o volume da televisão e pedir para alguém especial: me traga um pouco mais desse sorriso. Ainda vou ser como uma poesia toda-toda, muito feliz por simplesmente rimar. Eu precisava acabar com um tom próspero e cotidiano.)
Compartilhar no Google Plus

Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
    Blogger Comment
    Facebook Comment

0 comentários:

Postar um comentário