Por quê?


A fase dos "por quês" não acaba na infância tal como gostamos de pensar. É quando ela está somente iniciando. Mudam, obviamente, os "por quês". "Mãe, por que os aviões podem voar?". São perguntas que simplesmente viram: "Por que eu não posso simplesmente evaporar?". Complexidades de uma vida adulta, ou alguma metáfora disso muito bem desenhada pela vida. Loucuras da nossa cabeça; tormentos de uma existência.

A nossa inocência – velha conhecida, sempre negada – é pensarmos que não somos mais criança a partir de certa data, que isso passou, a época está lá atrás e nem lembramos mais com que mil perguntas infernizávamos a cabeça do adulto mais próximo. Julgamos-nos adultos demais enquanto a dúvida do coração partido, do ir ou ficar, do tentar de novo ou superar, do correr atrás ou deixar ir embora, vive nos matando. Crianças perguntam para começar a viver. Nós, adultos ou semi-adultos perdidos, perguntamos para beirar a morte, ou driblar ela, como cada um pretender.

Perguntamos para tentar entender, mas nunca entendemos que o "entender" não é uma equação exata de matemática, uma reação química previsível ou uma regrinha de português com as exceções imagináveis. A criança emerge de nós e paramos para atentar: o céu é mesmo azul? Se o é, então por que este cinza que não se vai? E as filosofias vão longe, os questionamentos, as conhecidas e repetidas perdas de tempo. As crianças crescidas que somos parecem nunca se conformarem com as peguntas sem respostas. Longe é longe, perto é perto, sim é sim, não é não, agora é agora, depois é depois, certo? Nunca. Nossas convicções estão sempre ao contrário e nesse mundo em que viemos parar e teimamos em entender, longe é perto, "não" é "sim", agora é depois e vice-versa. Para sempre somos errados, contrariados, questionados e questionadores.

Fazemos as nossas próprias respostas para ao menos dormirmos menos sonhadores e mais crentes. A crendice é que nos mata... E querer saber demais nos descontrola. Quando deixamos de ser crianças, é quando a criança cheia de dúvidas mais salta pelos nossos olhos.

Quem dera a vida fosse eternamente querer saber apenas como nascem os bebês...
Compartilhar no Google Plus

Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
    Blogger Comment
    Facebook Comment

2 comentários:

  1. A infância é um reino bom, tão bom que, depois de adultos, às vezes queremos ser crianças de novo.
    É um reino onde ninguém sofre tanto, onde nada é levado tão a serio e no final, não existe essa historia de morte.

    Em um determinado ponto, queremos ser adultos e deixamos aquela parte boa de lado, crescer nem sempre nos torna grande o bastante para encarar a vida como ela é.

    Esse texto aqui é lindo por demais também.
    Bjws "_"

    ResponderExcluir