Que horas são?


A insônia esqueceu de ser um prazer.

Na centéssima esperança, viro-me. Direita, esquerda, bruços, olhos abertos, olhos fechados, frio, calor, frio. Sonhos e pesadelos mal tem tempo de se concretizarem. Não tomam forma e nem desfecho, fico mesmo sem saber se foi um beijo ou um adeus.

Todas as noites o sono sai do ar, perde a sintonia com a lua, deixa de ver estrelas e ouvir cigarras ao longe. Todas as noites o sono revira na cama perdendo a conta das horas de descanso. Suspiro: deveria ter colocado aquele cigarro entre os dedos e imitado as cenas do passado; deveria ter colocado goela abaixo aquela bebida gelada e esquecido um terço das lembranças; deveria ter deixado a noite passar; deveria ter sido eu, embora tenha me deixado levar.

Eu já não sei se adoeço ou se esqueço. Ou, penso eu, se lembro para nunca mais esquecer. Na reta final, na linha de chegada, um dia disfarçado de noite. Mas já foram tantos dias assim que a noite sentiu inveja.

Insônia.

Que horas são? O ponteiro quebrou junto com os meses.

Eu vivi ou eu sonhei?

Insônia.

A última noite com cara de sono, respiração leve e direito a sorriso no rosto perfeito para a fotografia que não se tirou, teve nome. Você já pode sorrir nessa última linha. Aqui, é praticamente você – eu não ia te deixar de fora.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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