A gente nunca ama até o primeiro choro

Lágrimas de saudade. Lágrimas de raiva. Lágrimas porque o que doía era o dia estressante e uma simples ligação não atendida fez tudo vir à tona. Lágrimas de felicidade, comoção. Lágrimas pelos sentimentos que extrapolam. Lágrimas de desespero: a gente nunca ama até o primeiro choro desesperador.

Eu fiquei assim a noite inteira. Você sabe o que significa a noite inteira? Eu fiquei assim faz uns dias, na verdade. Acumulei desespero e juntei todos os motivos num só. Saudade a gente aguenta, raiva passa, felicidade é bom, mas desespero? Não é medo: o medo você faz passar também. Desespero não tem motivo, mata para lembrar que o coração anda bem vivo (e amando). Como é que se dorme mesmo? Me lembra, porque o desespero levou as minhas noites.

Você não vai, você disse que não vai, prometeu que não vai, jurou que não vai. E se for? Como eu fico aqui com as promessas escorregando feito grãos de areia pelos meus dedos? O que eu faço com os sonhos que você plantou, o amor que você regou... a vida que me mostrou? O que eu faço comigo? Ah, claro, o que sempre fiz: um belo nada.

Não é porque é noite, também não é porque você não disse que me amava mais cedo. É porque... eu me desesperei. Até andei sonhando com fogo e ficou confuso se significava meus problemas sendo resolvidos ou algum amor me decepcionando. Mas você não vai embora, eu sei que não. Vai é continuar segurando a minha mão como disse, achando graça das minhas perguntas bobas e ignorando meus comentários burros. Vai é continuar querendo me bater de vez em quando e me amando de vez em sempre. E se eu não for tudo o que você precisa? Esquece, eu me refaço.

É que eu chorei tanto... Você não imagina. Não, não diga que imagina, pois você não imagina. Nem eu imaginava. A dimensão do amor é tão bonita no papel e tão dolorosa aqui dentro. Seja o amor a beleza que for, quando bate o desespero na porta, bate todo choro do mundo, abrem-se as comportas dos olhos e segure-se quem puder! Eu nunca posso.

São suas músicas tocando agora. Aliás, é você entrando pela porta, mesmo que não seja. É você ajeitando as roupas que eu sempre deixo caídas por aí enquanto assobia aquela música, é aquela, você sabe. É você deitando aqui, dizendo deixa-disso-vem-cá, e eu indo. Somos nós limpando as lágrimas que eu engoli. Aquele desespero dá um tempo e adeus, até nunca mais, sou feliz agora e para sempre.

Fecha a porta, amor, vou falar apenas para ti. Eu descobri agora, agorinha pouco mesmo, que amar estava na minha lista de coisas a fazer antes de morrer. Talvez por isso o desespero: já posso morrer. Se bem que, eu sei que não. É desespero porque você quer gestos e eu não sei fazê-los suficientes. Desligo o telefone puxando o ar fundo e pensando que agora foi, agora você vai de vez. Mas aí volta. Segue voltando. O desespero só adormece, não morre. Você me fala coisas bonitas, faz coisas bonitas e eu não posso mais destruir esse nosso sonho que eu vivo de olhos bem abertos.

A gente nunca ama até o primeiro choro de desespero. Não diz "eu te amo" com tanta voracidade. Não conta os dias com tanta pressa. Não fala o que der na telha do romantismo sem tanto desprendimento. Não escuta a música com os mesmos ouvidos. Não ama com tamanha urgência e não vira tão amigo da insônia. A gente nunca ama até o desespero transbordar.

Eu chorei porque a gente se ama. Não era plano. Era (é) destino. É desesperadoramente para ontem.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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3 comentários:

  1. Lágrima de ler textos assim. Beijos, Cah!

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  2. " Nem eu imaginava. A dimensão do amor é tão bonita no papel e tão dolorosa aqui dentro" Tão lindo... Tenho sentido esse tsunami por dentro.

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