Uma cerveja sem álcool


Sensação de ressaca, com-ple-ta-men-te – separado assim porque falar rápido ainda faz doer a cabeça e não assimilo muito bem. Sensação de ter trocado os pés, tentado ridiculamente fazer o "4", falado palavras erradas a mulheres ainda mais erradas e virar o cara sempre errado, errando também muitas vezes a chave na fechadura e caído outras muitas até estar – teoricamente – são e salvo na minha cama. Mas "teoricamente" é uma palavra que nunca dá certo.

O grande porém da bebedeira, da noite e da vida mesmo, é que a bebida não foi nada etílica: foi você. Dor na cabeça das incontáveis batidas que dei de cara na sua porta de uma madeira pesada. Zumbidos no ouvido da sua voz que não parava de dizer naquela secretária eletrônica que você não estava, e eu já sabia, caramba, eu já sabia: você nunca esteve. Visão turva e pensamentos confusos quando outra qualquer tinha aquele perfume caro igual ao seu, mas não são todas que tem a boca desenhada, eu logo caía na real e ia chorar sozinho na minha casa porque em público era vergonhoso demais. Contar que era por amor, como? Por quê? Por quem? Desce mais umas bebidas que não vale a pena, irmão.

Joelhos e mãos esfolados de tanto cair subindo até a sua casa. Tinha que morar logo na parte alta da cidade? Olha que nem é poético, nada além de realidade: subi ruas inteiras para ganhar sua ausência de presente. Garrafas vazias, quebradas e jogadas de ilusão. Garrafas que nunca foram álcool; sempre amor jogado fora. Nunca soube comprar nem vinho, era de se imaginar que não saberia escolher um amor. E "amor" é exagero de alcoólatra.

Você e eu: uma ressaca distorcida.

Cerveja sem álcool, entende?
Compartilhar no Google Plus

Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
    Blogger Comment
    Facebook Comment

1 comentários: