Dor não fala

A dor, às vezes, é o enigma que carregamos. O choro sem saber de onde veio, o olhar triste num dia que mal começou ou uma sensação de que o quadro da vida está como o quadro da sala: torto. E nunca se sabe se é assim que ele quer estar.

Nem sempre a dor sabe sair pelas emoções, manifestar-se ou deixar simplesmente de arder. A dor esconde, retrai, guarda, cria um ninho próprio. Viver é doer-se. É sentir na pele o que talvez nem se sentiu de fato ainda, porque a dor também é assim: antecede-se aos fatos. Vem antes como uma leve tristeza, desconsolo e apatia. Vem dizendo aos poucos que o doce acaba, o amargo ainda existe e a vida segue a andar, para o bem e para o mal. E nos doemos quase sempre sem entendermos.

Eu sou a dor e os espinhos que não vi, mas foram fincados e posteriormente arrancados. Tudo é dor, se assim se deixar ser. Mas algumas vezes, ah, algumas vezes... Doer é tudo que se quer. Para não morrer, que doa. Para não se apagar, que doa. Para não desapegar, que doa, oras! Que siga doendo, pois é sinal de vida.

O coração não sabe quanto aguenta. Ninguém o questiona, ele segue lá fazendo o trabalho firme e forte, ou pelo menos é como pensamos que é. Depois de um tempo, afinal, quem é que ainda calcula a dor? Quem é que está contando quanto tempo faz que não parou de doer?

É que a dor, nua e crua, nem sempre se escancara. Nem para nós mesmos. Doer é um passo, um a mais de cada dia. Uma explicação a mais que sobra em branco.

 Se a dor falasse, não seria enigma. E se, por fim, a dor não fosse enigma, não nos interessaria.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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1 comentários:

  1. A dor me norteia. É ela que me diz que é hora de frear ou ir adiante. E quando te leio e vejo tradução do que não sei dizer, a dor ameniza. Você me ameniza. Por várias vezes você foi meu remédio. Te amo, Cah.

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