Nós teríamos um terraço...

Teu quarto quase arrumado, uma carta escondida e um pingente deixado.

Eu conto uma história de amor que ninguém conhece ou sabe os precedentes. Cúmplices foram as estrelas, a lua cheia, os meus recados deixados no ar, uma chuva fraca que caía e o mar bonito que não pisamos. E agora não há mar azul que lave qualquer choro ou alma. Não há o que nos cure, "baby", nem apelido repetido ou novo que nos salve. Não há termo que nos escreva, ou que nos apague. E a indecisão entre os dois aumenta a ferida.

Nosso encontro agora é nas páginas escritas do caderno que eu nunca te mostrei. É nos detalhes que ficaram, que fui espalhando um a um pelos cantos para sempre te ver por aqui no tempo em que ainda valia te ver, porque tua paisagem preferida agora é outra, e eu não sei mais olhar o sol refletindo em outros olhos. E lembro, então, que um dia nós teríamos um terraço, eu te construiria um, e acho que nunca te contei desse plano bobo de vermos a cidade do nosso próprio céu. O prédio inteiro desabou antes de tomar forma. Tijolos empilham-se ao chão e mesmo assim não são mais duros que a sua cabeça e o meu coração.

Meu sonho morreu, baby. Meu prédio caiu, minha solidão acordou. E tudo, tudo vive na tua parte que nunca se vai de mim. Vou cortar as raízes e chorar pelas rosas. Mas pelas rosas, não pela história que ninguém me viu viver. Não pelo sonho que nem você soube que morreu. Quem é que vai ficar para nos assistir tentar? Tranque a porta e feche as cortinas, eu não quero ver teu sorriso fácil quando passar. Eu não quero teu samba de outro amor nos meus versos de dor. E dizias em meio às tuas razões que o tempo amenizaria. Por que mentiu?

Eu nem sei mais consertar nossos próprios erros ou colocar para tocar aquela velha música que você usou para me falar de amor e o pacote inteiro: promessas, carinhos, saudade e paixão. Teu fervor ferveu até me queimar. Até apagar.

E quando o relógio marcar meia-noite, somente eu vou querer falar, porque você... você já se foi sem me ensinar a ir.

É, e nos teríamos um terraço... Mas isso também é passado.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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1 comentários:

  1. Teríamos um terraço, mas o prédio inteiro desabou... tijolos empilhados mas duros que sua cabeça e meu coração.
    Teu coração é um oceano, moça.
    Parabéns, Cah, pelo dia de hoje e pelos outros 364 que também são seus!
    Bj

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