O tudo e o nada

O porta-retrato que não comprei para a foto que não cheguei a mandar revelar. A palavra que saiu sem querer e já não poderia voltar atrás. O "não voltar atrás". O texto nunca terminado. O texto nunca lido. O texto em aberto, na frase acabada pela metade, sem ponto. O ponto final. A vírgula, os disparates do coração traçando as linhas invisíveis e cruzadas em meio ao fogo.

O calor. O frio. O verão, o inverno e a primavera. O outono que faltou para completar o ciclo. O começo e o fim. O silêncio e a voz. O doce e o amargo. O "mas". O "talvez". O "vamos em frente". O "vamos parar por aqui". A indecisão e a certeza. O ano e o mês. O dia igual para o sorriso e a tristeza. O segundo da paisagem mais bonita. A hora mais triste do dia. O calendário que finda.

A coragem. O medo. O ambíguo e o distorcido. O agora, imediatamente, se-não-for-assim-não-quero-mais. O carinho e o soco no estômago. O impulso e o freio. Lado escuro e claridade. Duas, dois, duplo, na dose e no ser.

O cheiro, a pele. O azul, o verde. O olho, a boca, o conjunto. A bossa nova e o samba. O rock e o clássico. O norte e o sul. O contraste que virou tatuagem no reflexo dos meus olhos. Marca. Marcada. Qualquer coisa ao vento, qualquer coisa ao relento. O abrigo e a cadeira já ocupada.

A trégua e o conflito. Meu bem, minha dor. Meu curativo, minha falta. O passado e o "assim será". O amanhã ou o nunca mais, "tanto faz".

Você sempre será, em meio as minhas lembranças e forças para esquecer, o que jamais pude controlar.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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