Síndrome de super-herói

Superman by Boyce Avenue on Grooveshark
Eu queria salvar alguém ou alguma coisa. Uma causa que valesse a pena. Quando somos crianças o mundo lá fora parece estar muito mais em perigo do que o nosso próprio mundo, e eu gostava mais dessa sensação.

Acontece que a maioria de nós cresce e, bem, não pude escapar. Na ruptura entre a infância e a vida adulta o perigo muda de lado. Lá fora é tão mais seguro... Aqui dentro é tão perigoso. Vinte e poucos anos dizem alguma coisa? Uns erros pelo caminho podem dizer, pois dizem de todos nós, não importa o tempo. E fica claro em cada olhar de quem já foi criança sonhando em ser herói do mundo: aqui dentro assusta muito mais. Clarice Lispector disse (com toda certeza foi ela que disse): "O adulto é triste e solitário. A criança tem a fantasia solta". Perdi minha fantasia em alguma mudança de casa.

Precisamos ser salvos quando temos que abrir mão de um sonho em prol de outro. Quando um amigo se vai. Quando um amigo nos trai. Quando a família revela os segredos. Quando os segredos revelam as pessoas. Quando o coração se parte. Quando a luz apagada no quarto grita a solidão inevitável na vida de qualquer um. E lá fora? Ah, o mundo não sabe o sabor seguro que tem.

Eu precisava salvar o mundo e hoje preciso me salvar, assim como todos. Porém, há uma parte naquele processo doloroso e excessivamente dramático de crescer que não ocorreu conforme o habitual. Porque, no fundo, eu ainda quero mesmo é salvar o mundo. Bom, se fazer faculdade de Direito não envolvesse tantas leis que me fariam pegar no sono, eu bem que teria tentado por esse lado. Teria pegado em armas e saído por aí com uniformes da polícia também, mas somente se tivesse uma saúde mais forte. E teria nascido com o sonho de ser bombeiro, se fosse homem (não que mulheres também não possam).

Não sei como o ato escrever pode salvar a mim ou alguém, mas é o que me restou e, às vezes, até soa como salvamento. É boa a ilusão, funciona em muitos dias. Mas até escrevendo não tem como não querer ser igual aos personagens de filmes que conseguem salvar todo mundo e a si mesmos.

Crescer arranca pedaços e nós passamos o resto da vida em busca deles para remontar o que ficou pelo caminho. Mas o caminho, enfim, é sempre outro. Crescer é se acovardar, é endurecer, já devo ter escrito isso como vários outros. E eu cresci, perdi lá os meus pedaços e tenho muitos a perder ainda. Acovardei-me nas piores noites, mas principalmente quando o sol aparecia. Mesmo assim, eu ainda queria ter salvado alguém ou alguma coisa, ainda que a maior causa perdida seja eu mesma.

Não sou super-herói, mas deixa registrado aí: na próxima vida, quem sabe.

E isso não é bondade em demasia ou caridade; meu coração é do tamanho de qualquer outro. Isso é... Olha, eu nunca soube o que é, deixa para lá.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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1 comentários:

  1. Cah, talvez a Mulher Maravilha tenha ciúmes de ti. Tuas palavras já me resgataram em muitos dias...
    Bj enorme

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