Das noites frias e você

Hey There Delilah by Plain White T's on Grooveshark
A noite está fria como você gosta. Pelo menos lembro de um dia estar te olhando disfarçadamente de canto de olho, analisando sua barba mal feita e os seus olhos cansados enquanto você olhava para a janela fechada e suspirava: "gosto das noites frias".

Desde aquele dia todas as noites frias não são as mesmas. Você, camisa de manga de curta tomando bebidas quentes, gostava de noites frias, e isso era o suficiente. Quis que você gostasse de mim como gosta delas. Que tirasse o pó da minha felicidade como tira dos seus livros espalhados pela estante do seu quarto, um tal de caos que você chama de ordem: "sei onde a minha bagunça se encontra". É, você tem razão, é mais seguro assim, pois eu nunca tive mapa para a bagunça que você fez. O ponto de referência é você, mas o labirinto é sem saída. Queria mais noites frias para poder te explicar isso e muito, muito mais. Uma pena eu nunca saber explicar nada.

Naquele dia o céu tinha poucas estrelas. Era uma daquelas noites em que se pode contar com os dedos cada ponto brilhantes acima de si. E lá foi você contar uma por uma. Acho que contabilizou nove ou dez. Inventou alguma história sobre as estrelas não aparecerem quando o nosso dia é triste, que acreditava nisso desde criança, mas que não entendia bem: o seu dia havia sido bom, bonito, calmo. E lembro bem de como foi o dia, da nossa conversa sobre o filme novo daquele diretor super idolatrado e que nenhum de nós dois gosta. Sobre gostar ou não gostar de mel. Lembro-me da hora em que você ligou a televisão e reclamou da programação, enquanto eu só queria um filme que falasse de amores impossíveis para a nossa história se encaixar. E lá no meio das reclamações você fazia carinho no meu rosto com o canto do seu queixo e eu me perguntava que maldição tem na sua barba que eu gostei dela e nunca gostei de nenhuma outra. O nosso dia terminou conforme o relógio determina e a vida passa. Começou com céu e sol, terminou com poucas estrelas e lua cheia. Aliás, você também falou da lua. Disse que queria ser um astronauta. Contive minha vontade de nos imaginar juntos numa nave espacial, tive medo de você me achar maluca, embora eu realmente seja.

E se eu contasse dessa minha vontade louca de ser a noite mais fria do ano só para te agradar? Só para ver se você vem, se passa aqui mais uma vez, se pega um resfriado só para eu perder meus dedos entre o teu cabelo curto meio enrolado, como você gosta de dizer. Eu posso até expulsar o verão do nosso calendário, tudo por razão à loucura de te querer.

Ah, eu sei, você não entende justificativas de amor. Nem eu. Só estou tentando justificar que cada lembrança sua é, para mim, a noite mais fria do ano. E já mudei de ano muitas vezes num só. Mas isso, e tudo aquilo sobre amar a sua barba,o seu cabelo e o jeito como toma bebidas quentes, você jamais vai entender, porque eu nunca fui o seu cobertor preferido. E os nosso detalhes são as partes suas que eu esqueci de beber naquele último café com você. Ficou tudo pelo ar, gelado que só ele.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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2 comentários:

  1. Acho divina a forma como você rearranja as linhas e palavras. O texto terminou gélido, garota. Queria um final quente para essa noite fria =\


    beijos

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  2. Olá!! mas que coincidencia, cheguei no teu blog por acaso e vi que tu és pelotense como eu... adorei teu blog. Escreves muito bem, tens uma sutileza nas palavras, palavras estas que sinto ser de coração... Continue escrevendo bonito.

    Bjus
    Débora

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