Não tive o privilégio das palavras leves, das memórias curtas ou dos
vazios confortáveis. Não tive a sorte do arco-íris antes da chuva, e
tento acreditar que é assim com todo mundo. Aqui, as palavras abriram um
buraco, as memórias viraram feridas e os vazios... desconfortos.
Eu
fiquei um dia desses imaginando como é não ter o peso de ser quem se é,
mas as palavras pesaram tanto já ali que contive os pensamentos. "A
gente é o que é". Isso é uma daquelas frases que esconde durezas que eu não quero precisar contar aos meus filhos, embora saiba que contarei. A viagem é longa, o destino é incerto e a parada
obrigatória. Dormir é necessário, não é? Mas isso não faz sentido. Em
cada sono meu sempre existiu dez quilos em cada lado do cérebro.
Sempre existiu um cemitério inteiro em cada lado do meu peito. Mas isso é
triste... É mais uma das coisas que não vou contar aos meus filhos. Eu
não quero ser quem espalha a tristeza.
Numa noite dessas eu me
apaixonei, ninguém estava aqui para ver e o cemitério ganhou flores. Era um misto de medo e prazer.
Era querer correr, mas ficar para tentar entender. Era não entender e
mesmo assim ficar. Vou anotar e contar aos meus filhos. Vou falar que
amar é como escrever: um tratamento para a loucura de ser quem se é
(apaixonado e escritor). E não faz sentido, jamais vai fazer sentido. O
sentido ainda pesa mais que as palavras, as memórias e os vazios.
(A maionese da geladeira vence no mesmo dia que a gente perdeu, olha que coincidência: tudo feito para acabar)
I wish I could stay, but we never know how this should be.
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