Se o amor lhe sorrir, estenda a mão, dê um espaço no banco, faça gentilezas, enxugue a lágrima, cuide, acaricie. Se o amor lhe sorrir com dentes brancos, sem freios, entre silêncios ou gargalhadas, tímido ou oferecido, seja um bom hóspede e aprenda a também mudar de casa.
Se o amor lhe sorrir, aguente as mãos trêmulas, alimente as borboletas, escute os sinos da igreja. Reserve o vestido, o terno, as flores e o bolo. Treine a valsa e escreva os votos. Se o amor lhe sorrir, engula o passado e vomite o clichê.
Se o amor lhe sorrir, aguente as pernas bambas, ultrapasse as noites em claro, escute as músicas bregas. Viva a trilha sonora do casal da novela das nove, esconda uma foto na carteira, sinta saudades no sábado à noite. Compre um presente sem data marcada, escreva um cartão, copie um poema. Se o amor lhe sorrir, seja poema. Permita a rima.
Se o amor lhe sorrir, lute contra o medo, enfrente as dúvidas, esqueça os traumas. Chore alto e sorria baixinho. Jante fora e dance na sala. Compre velas e queime o almoço. Abrace forte e enfraqueça no abraço. Beije na testa mais do que na boca. Mas beije na boca, na nuca, no ombro. Beije. Se o amor lhe, jogue beijos até no ar.
E, se o amor um dia lhe cegar, aceite a condição. Pegue a cegueira,
entrelace os dedos e caminhe pela cidade. Veja o azul no cinza do céu.
Seja contradição. Seja amor. Seja o espaço alargado entre os lábios ritmados no segundo entre sorrir e se apaixonar.
Se o amor te transtornar, aproveita e transforma!
(se um dia eu te sorri, é porque você me fez parar de chorar; é porque o amor é transformação.)
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