Repetir palavras é o mal de quem já se escreveu tantas vezes, mas é engraçado: te encontrar foi como renovar todo o meu vocabulário. Foi ver surgir em mim um dicionário novinho, palavras e mais palavras que eu travo na hora de confessar tudo o que se passa aqui dentro. Porque você já sabe: eu nunca entendi bem de falar. Sou melhor desviando o olhar, entortando o canto da boca para sorrir e apertando os olhos de vergonha. Sintomas de amor.
Tudo em mim sempre esteve cheio de outras pessoas e histórias. Meu prédio de palavras, que não é tão meu assim, ainda não te conhecia. Se antes meu concreto estava quase desabando, te ver foi suficiente para reforçar as estruturas. Eu gostaria de te pedir para esquecer as suas chaves por aqui. Para voltar todos os dias e (me) buscar. Se o meu prédio fosse um hospital, diria que você me levou da UTI para o quarto. E já estou em casa, passo muito bem, obrigada.
Só estou tentando te provar que você mora em mim, nossa casa tem um cachorro com aquele nome estranho que você tanto ama, um cômodo só para os nossos livros, uma estante com os seus filmes de terror misturados com os meus romances água-com-açúcar, muita massa e queijo na cozinha para você nunca passar fome, um telescópio no quintal e canecas divertidas para tomar o seu chá enquanto tomo o meu café. Se algum dia esquecer o endereço, posso te encontrar pela cidade. Se você me custar todas as noites, posso dizer que adoro a companhia das estrelas.
Entre milhares de coisas que já escrevi ao vento e com endereços errados, não poderia te deixar de fora. Esse é para você, como não é de mais ninguém. E nada é tão autobiográfico quanto te incluir no meu presente que enterra por vez o passado.
Eu tenho mil textos de amor, mas eu só tenho um "você". A conjugação da segunda pessoa é sempre sua.
Que lindo isso!!!
ResponderExcluirTexto maravilhoso Camila, parabéns!