É todo pra você

All Star by Cássia Eller on Grooveshark
Você espalhou fotos suas sorrindo e fazendo caretas pelo meu celular. Espalhou o seu cheiro pelo meu casaco. Espalhou as suas digitais pelos meus livros. Espalhou felicidade em mim.

Você sabe o que passou dai e eu sei o que passei daqui. Às vezes, no íntimo da minha coragem - ou seria covardia? -, busco alguma força para te contar de quando achei que tudo eram flores e  ao chegar perto demais acabei me espetando em espinhos. Eu nunca subi no ringue e mesmo assim os socos da vida quiseram me visitar. Não se sinta mal pelo que não sabe; eu também não sei. Quanto à solidão, não imagina as guerras que já venci dela. E mesmo tendo me quebrado em algumas ocasiões, eu ainda estou por aqui.

O que quero dizer é que entre as nossas diferenças e semelhanças há um ponto que apareceu sem que eu mal percebesse. Há alguma coisa, provavelmente luminosa e dona de si, que surgiu ali no seu cantinho em silêncio, tal como nós. De sorriso em sorriso, você, que se diz "a parte depressiva" de nós, venceu a minha tristeza. Você sorriu e a minha solidão derreteu. Você trouxe o seu jeito de quem quer ser eternamente criança e eu gostei de brincar neste parque de diversões que é simplesmente dormir num abraço como se não houvesse mundo lá fora. Talvez, para nós, eu e você, não haja mesmo mundo lá fora, porque aprendemos, sabe-se lá como, que a vida somos nós quem inventamos. No meio das invenções, você me apresentou aos sorrisos.

Essa é a diferença que eu nunca te contei. Das pessoas que passaram, todas sempre me deixavam com uma sensação de tristeza. Digo, diariamente. O "bom dia, "boa noite", "até amanhã", qualquer coisa... Tudo, bem lá no meu fundo, sempre soprava ventos num mar de lágrimas. E o meu barco nunca acertou a direção. É o que limpou em mim: a sensação de nunca sorrir por completo. Você é como entrar numa roda-gigante e morrer de medo de que ela pare bem lá em cima, mas ao mesmo tempo torcer para nunca sair de lá. E como eu poderia não reparar? Como eu poderia não admitir que você passou o meu sorriso a limpo?

Na minha memória há muitos cantos escuros, outros vazios, partes de um passado e até de um presente que na maioria das vezes nós mesmos não temos a chance de escolher ou evitar. Eu estou por ali, andando em meio a essas memórias, revivendo um dia ou outro, repassando dor por dor. Por isso as suas fotos caem tão bem na minha tristeza. Por isso o seu sorriso me ensinou a única lição da qual eu me julguei inteligente demais para precisar aprender: ser feliz é só uma questão de não perceber quando os ventos mudam a direção. Ser feliz é a criança que há aqui, bem mim. Bem em ti. Bem em nós quando entramos naquela loja de brinquedos e desejamos todos bichos de pelúcia com aquele olhar brilhante. Eu não sei se lá fora chovia ou não, não lembro do horário ou da roupa que eu vestia... Eu lembro que a gente sorria. E pronto: a minha memória já consegue dormir em paz.

Se eu pudesse te contar da minha própria vergonha em não saber ser feliz, você diria que é bobagem minha. Não acreditaria. Pensaria que logo passa, que não me ensinou coisa nenhuma sobre sorrisos e rodas-gigantes... Logo você. A minha batalha agora é acreditar que as coisas podem ser boas, porque é isso que o meu coração crê quando você vem quase saltitante, me dá um sorriso e logo me abraça. Como se não fôssemos verdades, mas somos tanto que acreditar se torna difícil: eu nunca fui boa com as coisas boas.

Vou dormir olhando as suas fotos, tudo para imaginar o que me prometeu: "se a gente não tiver dinheiro para ir até Paris, eu faço Paris no nosso quarto". Só me dê sorrisos, meu amor, e eu acho até que posso ser feliz, mesmo sem palavras certas para te dizer todas as minhas coisas erradas. Perdi a luta comigo mesma, perdi aquela busca louca por cada sílaba correta. Eu te vi, nós estamos aqui... Posso até pensar em só sorrir sem medo de amanhã chorar.

Faz um tempo que me encontrei no teu mundo. Eu não quero ter palavras bonitas. Eu só quero te ter.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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