A enquete vai além

Tirar a roupa não é uma causa. Desculpem, mas no meu entender, não é. Bem, até pode ser, mas tirar a roupa não é como esbravejar “liberdade ou morte”. Tirar a roupa é apenas… tirar a roupa; em casa, na praia, na festa, seja lá onde for. Os limites de cada um pertencem a cada um. Eu entendo: é um ato simbólico. Um ato que quer gritar “minha vida é MINHA”. E mais ainda: “sendo minha a vida, eu ando com a roupa que EU quiser sem sofrer abuso”. Anda, lógico que anda, mas será que anda com a vida que quer também? Porque alguns não entendem, mas toda essa movimentação quer dizer muito mais do que isso. Eu sei, repito: as fotos com a mensagem “eu não mereço ser estuprada”, nesse caso, são completamente simbólicas e lutam por uma causa. São válidas e necessárias. O que eu me pergunto, sinceramente, é quem consegue perceber quantas mulheres realmente estão lutando somente e tão somente por isso. É, nada mais. Além de nós, que temos facebook e sabemos distinguir o certo do errado: e as outras mulheres? É como toda rede social votar na Marina Silva em uma eleição e não entender como ela não ganhou, afinal, “era a preferida na internet”. Simples: há um mundo muito maior lá fora. Então, quem conhece as demais mulheres? Porque elas nem conhecem o “algo a mais”, o “mundo lá fora”. Na realidade delas, “tirar a roupa” é o sentido literal, e por isso uma enquete deveria assustar tanto. Um estuprador, com sorte para a sociedade, vai para a cadeia. E elas? Quem as salva? A tal enquete demonstra uma realidade infeliz, sim. A campanha, felizmente criada, mostra a força de quem reconhece a estupidez do julgamento humano e o desrespeito com a mulher, sim. Mas e por trás dessa realidade? Será que alguém ainda enxerga? Eu não gosto do facebook e de opinar, mas gosto menos ainda de quando somos iguais a um cavalo e fechamos nosso olhar num único sentido. Porque seja aqui, na enquete ou na campanha, os sentidos são bem maiores do que parecem ser. Não, não merecemos ser estrupadas. Mas, acima de tudo, não podemos deixar que sejam estupradas. E é isso, muito além do tamanho de uma roupa ou do direito de cuidar da própria vida, que é uma grande causa.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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1 comentários:

  1. Sinceramente, cansei de ser estuprada moralmente, e pra isso não tem cadeia...
    Já disse que te amo?

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