Lápis de cor

Uma vez a professora disse que eu precisava consertar o desenho que havia pintado. Eu tinha cinco anos, apenas. Ela queria que eu consertasse um desenho já pintado sem me dar outro para começar tudo outra vez, porque esse, ao meu ver com olhos de criança, era o único jeito de pintar melhor. De novo: eu tinha cinco anos. Tudo o que pensara era: "como se conserta isso?". Até hoje não sei o que ela esperava que eu fizesse.

A metáfora e a memória do momento me caem bem agora. Tudo o que preciso consertar já está pintado. Como os americanos falariam, "what's done is done". Está feito, não há uma folha novinha para eu consertar como se fosse apenas uma mágica esperando para ser realizada. E agora? Como eu recomeço sem haver ponto de partida? Como eu pinto por cima? Pode ser que a vida seja como aquele desenho que eu pintei todo errado. Nunca soube pintar mesmo, não sei como passei da pré-escola. Também nunca soube viver; sei menos ainda como estou quase alcançado os 23.

Pinto a minha folha um pouquinho melhor aqui, outro pouquinho ali. Vivo dessas metáforas mal pintadas, mal vividas. Não é tão ruim quanto parece, só não é tão poético quanto colocar isso em palavras. Comparações não me dão desenhos novos... E, de qualquer forma, eu ainda quero pintar esses velhos mesmo, tenho muito o que fazer. Quero ficar por aqui onde estou, mesmo não sabendo quais desenhos cabem de fato na minha gaveta. Mesmo não sabendo pintar o meu céu sem antes trazer chuva.

A professora deveria ter me dito logo que pintar como profissional quando se tem cinco anos é a mesma coisa que viver. É tudo uma ilusão. Hoje, não posso consertar textos antigos. Não posso consertar passos mal dados apagando minhas pegadas pelo caminho. Não posso consertas as palavras. Hoje, para pintar novamente não me bastaria uma caixa de lápis de cor. Eu deveria ter aprendido.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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