Me ensine a partir

É como entrar sozinho em uma guerra. Às vezes, parece que nem o inimigo está ali. É como esperar na parada um ônibus que não passa por ali. É como fazer um gol de placa em pleno Maracanã sem ninguém para ver. É como comprar uma passagem de ida sem ter lugar para ficar.

Entrei na guerra. Esperei o ônibus. Fiz o gol de placa. Comprei a passagem. Segui o roteiro, fiz como deveria, além do que podia. Fui fazendo, indo, daqui, dali. A guerra solitária não cessa. O ônibus? Vou ter que caminhar. O gol? Não muda o empate. A passagem eu nem li o destino. E eu te queria lá com armas junto às minhas, com o passo ao lado do meu, como a plateia que me importa, como o destino que eu busquei. Eu te queria aqui, como quem sabe que desistir não deve fazer parte dos nossos planos.

Eu lembro que no início a guerra era outra. Precisei quebrar todas as suas defesas, uma por uma, dia por dia, passo por passo. Não cansei, não quis olhar para o lado. Não quis os caminhos fáceis ou não viver "tudo aquilo que poderia ter sido". Hoje, preciso que me ensine a ir embora, a ser como te vejo sendo, a jogar fora o que cultivei com tanto cuidado. Entre a minha paciência e a tua confusão existe uma ponte que quebrou; parece que você se esqueceu de como nadar.

E te convencer de que estar aqui é viver um dia de cada vez já não tem sentido. Explicar qualquer coisa, agora, parece como conversar com uma parede. Você ouviu quando falei das decepções? Ouviu quando pedi para não ir? Ouviu o meu coração quando encostou a cabeça em mim? Ouviu o silêncio do nosso futuro? Ao menos você cogitou ficar?

Ainda quero colocar um quadro com o teu sorriso na parede. Ainda quero desenhar para te entregar. Ainda quero correr para te responder. Ainda quero comprar chocolate quente para te levar. Ainda quero ser o teu travesseiro. Ainda quero trocar a minha alegria pela tua. Ainda quero te tirar do sério. Mas eu não posso... Eu não posso.

Me ensina a partir... Ou me deixa te ensinar a ficar.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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