Quando a hipocrisia vence o machismo





Este texto tem gênero bem definido: feminino. Ele tem origem em uma roda de amigos e fim sabe-se lá onde. Esse texto tem indireta, e é triste para quem se sentir atingido. Esse texto tem hipocrisia nos exemplos, mas, se você acha que é tudo bobagem, esse texto também tem um quê de "isso não é para mim".

Já existe muito material por aí falando do feminismo, defendendo o direito da mulher ser aquilo que ela bem entender ser (AMÉM). Não quero falar dos homens que não respeitam as mulheres ou do histórico da luta. O que quero falar é de hipocrisia. Sim, porque como é difícil a mulher (como gênero, não como uma só) vencer barreiras quando ela mesma está entre elas. E é exatamente o que acontece: muitas se vestem de hipocrisia para justificar pura vaidade ou preconceito.

No último final de semana uma das conversas na minha roda de amigos se concentrou na hipocrisia feminina. Quando criticamos algo/alguém e fazemos igual, é hipocrisia, certo? E pior: nesse caso é também o pior tipo de machismo que existe. É a contramão do discurso feminista que tantas mulheres estão tentando defender. É a morte da própria mulher dentro de si.

Rapidinho: quero que você lembre daquela amiga/conhecida/inimiga, seja lá quem for, que não se ama. Porque me desculpem, mas só uma mulher que não se ama nadinha é capaz de prestar tanta atenção em outra expondo o que ela considera como impurezas, digamos assim. Vamos a alguns exemplos básicos do dia a dia:

"Ela só quer saber de achar cara pra sexo."
"Ela usa essas saias curtas, tenho horror a isso."
"Tu viu a fulana naquela festa? Chegou nele na maior cara de pau!"

E agora vamos ao que interessa... Depois de proferir frases tão julgadoras, o que ela faz? Igualzinho! Isso mesmo, ela quer um por semana na cama, ela manda encurtar a saia tudo que pode, ela bebe um pouco a mais pra poder agarrar o "boy magia". E o que eu acho? Let's be happy! Ela pode fazer tudo isso, mas não, ela não pode julgar a coleguinha. E por quê? Porque quando ela faz isso ela está do lado de todos aqueles que acreditam, sim, que a mulher tem culpa só pela roupa que veste.

Sejamos bem claras: não adianta você querer vestir a lingerie mais bonita pra se achar a Gisele Bundchen seduzindo por aí, mas interpretar a Madre Tereza de Calcutá ao falar das demais mulheres. A incoerência tem um preço caro. Entre putas e santas, damas e vagabundas, há muros demais erguidos pela hipocrisia. Há um gênero quebrado por si mesmo buscando defesa para poder sair à noite sem medo, sem ouvir piadas, sem rezar para chegar em casa sem arranhões.

Como eu e meus amigos terminamos concluindo, é verdade, sim, que mulher que se ama pelo menos uns 10% e não tem medo de ser feliz, assusta os homens. Eles ficam perdidos quando encontram mulheres que não recuam, que se conhecem e sabem o que querem. Mas o fato é que isso assusta mais ainda as outras mulheres, aquelas mal resolvidas, aquelas que querem tudo, mas não admitem nada, aquelas presas dentro da própria vaidade, preconceito e, enfim, a velha hipocrisia.

Eu conheço, você conhece e muita mais gente conhece pelo menos uma mulher que precisa diminuir as outras para encontrar algum espaço seu no mundo. Conhecemos sempre alguma que levanta a bandeira da boca pra fora, mas no cantinho da festa coloca a mão na frente da boca para falar da outra dançando logo ali. Sabe o que isso me lembra? Amigas que quando bebem se beijam e depois, já sóbrias, tem "nojo" quando duas mulheres passam de mãos dadas. E aqui vai uma sincera dica dos meus vinte e poucos anos: se a grama do vizinho parece mais verde, vá aprender a capinar.
 
Nessa disputa o machismo não é o que mais me assusta atualmente, apesar dos pesares. A hipocrisia, muito provavelmente, surgiu bem antes dele. A desunião é o retrato de um gênero que só quer sair de casa sem medo do homem parado na esquina mais próxima: unidas pelo medo, mas separadas pela hipocrisia.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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