A bagunça de dentro ou a de fora?


Não sou a pessoa mais organizada do mundo, não sou mesmo! Mas sabe aquelas pessoas que se acham dentro da própria bagunça? Aí sim sou eu. Também não gosto que falem da minha bagunça. Ela é minha, só minha! Acho a coisa mais fácil do mundo arrumar tudo se eu quiser. Mas não quero. Por quê? É que eu fico ocupada tempo demais tentando dar jeito nessa bagunça aqui de dentro. Ela é invisível, mas vive aqui comigo. Quem vai arrumar? Ninguém. Nem eu, nem ninguém. Essa é fácil de disfarçar, fingir que tudo vai bem arrumadinho, mas é pura fachada. Alguém suspeita? Quase ninguém.
Todo mundo se faz de feliz, organizadinho, bonzinho, felizinho, mas, internamente, como andam as coisas? A saudade, a mágoa, a decepção, o sonho interrompido, os caminhos errados, as faltas e os excessos, alguém sabe arrumar? Na bagunça de casa podemos ir colocando tudo dentro do guarda-roupa e amontoando. Uma hora abrimos a porta e tudo aquilo cai diante dos nossos pés. É assim com a vida também. Podemos ir guardando tudo aqui dentro, onde ninguém vai ver, mas uma hora, mais cedo ou mais tarde, as coisas se revelam, escapam do nosso controle e acusam todos os golpes que andamos levando dia após dia. Essa bagunça é tão perigosa quanto silenciosa.Você sorri aqui, sorri ali, socializa, faz umas piadas, ajuda o amigo, canta com bom humor, mas no fundo, bem lá no fundo, quer mesmo é enxergar uma luz. O problema é que fica tanta bagunça junta que nada se ilumina. Você procura a saída para si mesmo e não acha. Procura a solução, o escape, e não acha. Você simplesmente vive em um caos. E até quem é feliz vive no caos. Aliás, os mais felizes de verdade são aqueles que possuem tanto caos em si que aprenderam o básico: não dar para ser feliz sem ele, apenas ser feliz apesar dele. É exatamente isso.
A bagunça que carregamos não pode ser arrumada do dia para a noite. E todos nós acabaremos descobrindo que quando uma se resolve, sempre aparece outra. São coisas inevitáveis da vida, acostume-se. Sacode um pouco essa bagunça toda e vê o que sai dela. Não dá para se desesperar e nem para ficar inerte. Deixa algumas coisas descansando, outras você tira de molho e joga fora ou faça como achar melhor. Só não se tranque no armário da razão conflitando com a emoção. Deixe as coisas respirarem de vez em quando. Essa falta total de organização sempre acaba chegando. A cabeça dá mil voltas e o coração fica como se não batesse mais. Respire, relaxe, re-organize.
Então apenas me deixe com a minha bagunça, seja no quarto, na sala, na cabeça ou no coração. Eu encontro tudo o que preciso dentro de mim, desde a saudade até a felicidade, é só procurar com mais atenção. Não pense que eu não me acho. Pelo contrário. Nos meus desencontros rotineiros, tropeçando nas partes de mim que ficam acumuladas pelo chão da minha bagunça, eu sempre me encontro.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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