Não mata, mas sufoca


Uma vez pensei que ia morrer de saudade. Se eu não morresse, pelo menos tinha a certeza de que não sairia mais da cama. Não morri. Também não fiquei mais de duas horas na cama. Sei que sou bem dramática e exagerada nos meus sentimentos, mas saudade é coisa séria. Saudade é coisa sem tradução. Saudade é aquilo que me deixa agora aqui olhando para a tela do computador meio sem palavras, com a cabeça distante e imersa em tantas lembranças... Saudade pode ser querer de volta ou nem querer, mas só sentir. Porque tem coisa que a gente lembra, deixa cair uma lágrima e sente o coração apertar, mas sabe que não é mais a hora, sabe que o que passou, passou. Mas nada impede a saudade. Quando alguma coisa marcou mesmo, a saudade é quem passa a representar aqueles momentos dentro de nós. Ela nos deixa doentes mesmo e tem uma força que eu nunca vi igual. Não tem hora para chegar e nem se sabe exatamente se vai ir embora. Ela manda e desmanda em quem ela bem entende. Tem vida própria. Tem cheiro, tem voz, tem fisionomia, tem lugar, tem tudo aquilo que ela quiser ter.
Eu sou feliz de verdade por ter algumas saudades. Como tanto dizem, saudade é sinal de que se valeu a pena viver. E como valeu! Só a saudade mesmo pode ser cúmplice da nossa memória e nos tirar um sorriso tão involuntário do rosto quando pensamos em alguém que já não é tão presente ou daquele dia tão simples e especial que nós nunca vamos esquecer. Saudade é isso: uma vida que foi feliz. O que eu faço agora será a minha saudade de amanhã. Tem coisa que extrapola a saudade e chega ao nível de fazer falta. Isso é outro assunto porque falta podemos sentir até de quem senta todos os dias do nosso lado. A saudade às vezes é minha amiga, outras é minha inimiga. Já deixei orgulho demais de lado guiada só por ela. Já a sufoquei com milhões de lágrimas no travesseiro. Todos os dias eu me sinto com uma mochila nas costas pesando pura saudade. Por um lado isso é viver, é ir acumulando tanta coisa inesquecível que nos faz sentir vontade de voltar para aquele abraço, aquele lugar, ouvir aquela risada de novo ou ter um único dia a mais com a família, os amigos ou quem quer que seja. Por outro, ela é a loucura de querermos ir até o outro lado do mundo para matá-la. Ela é esses contrastes todos.Saudade é olhar para trás e saber que tudo mudou e nada foi em vão. Saudade sou eu olhando fotos e pensando em quem está longe por tem que estar, em quem está longe porque quis estar, em momentos que não vão se repetir e até em mim mesma, que já não sou como era. Saudade é coisa boa, sim! Ela é dor às vezes e conforto outras tantas.
Coisa boa mesmo é saber que existe alguém que nós podemos pegar o telefone e dizer ‘tenho saudade’, sabendo que a outra pessoa vai responder com um ‘eu também’. Não, ninguém vai morrer de saudade, eu acho. De saudade, eu, você e todo mundo, vivemos eternamente.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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