Perfeitamente sendo, desistimos.


Imagine perder os movimentos das pernas. Isso mesmo: não poder andar. Indo mais longe: imagine não poder andar e ainda morar em uma parte menos economicamente favorecida da cidade no alto do morro, bem lá no alto. Foi isso que eu me peguei imaginando após ler a história real “O menino do alto”, incluída no livro “A vida que ninguém vê” da escritora Eliane Brum – e que recomendo de olhos fechados. O que me impactou de verdade foram as duas últimas frases usadas por ela. “É só um menino de pernas mortas. E não desistiu de mudar o mundo.”
Quantos de nós andamos normalmente pelo mundo, moramos em condições bem melhores e desistimos de mudar algo sem nem tentar? Ah, mas é que o mudar o mundo é uma utopia. Ok, ok. Mudar a vizinhança, quem sabe? Alguém se habilita? Mudar a própria vida que não vai pelo caminho certo às vezes, quem muda? Talvez, por termos tudo o que é primariamente necessário, acabamos nos acomodando. Não mudamos nem o nosso interior porque o resto do mundo não ficará sabendo, então, de que valerá, não é verdade? Lavamos as nossas mãos a cada notícia ruim. É claro que ninguém vai acabar com a fome mundial, não sejamos hipócritas, mas quem sabe não estendemos um prato de comida aos pais de família que não conseguem alimentar os filhos? O que eu acho? Acho que saber que existe alguém que ainda acreditar que pode mudar alguma coisa enriqueceu o meu dia e me contagiou a nunca descreditar. Enquanto houver uma única alma transitando por essa loucura que chamamos de mundo e que enxergue tudo com olhos mais bonitos, haverá um lugar melhor para todos nós.
É que não movemos nem um dedo pelo amigo, que dirá pelo mundo inteiro. É que achamos que se apenas nós economizarmos a água, fizermos a coleta do lixo, formos educados no trânsito e buscarmos nossos direitos perante a lei, não mudará nada. É que nem começamos... É que, sinceramente, achamos “poréns” demais para nos eximirmos da culpa. E é exatamente nesse momento que pecamos. Nada de discurso estilo Madre Tereza de Calcutá. Eu também me acomodo. Mas onde ficaram os sonhos? Onde ficou o mundo em que era bom viver? Onde ficou a nossa vontade de não sermos apenas mais um corpo entre tantos? É tão bom fazer a diferença, e é tão ruim saber que a maioria nunca vai se esforçar para sentir essa sensação. Claro que vivemos num tempo corrido, claro que tem gente espalhada por todos os cantos prontinhas para nos passar para trás, claro que nem tudo são flores na vida de ninguém, mas pense um pouquinho: existe um mundo inteiro ao seu redor. Existe toda uma realidade que ninguém vê. E antes que eu esqueça: existe o tal do amor que ninguém mais sente. Lá fora, longe ou perto dessa cama quentinha que você tem, existe um mundo esperando a mudança que nunca chega. Quem sabe um dia chegue pelas mãos daqueles que mal tem pernas ou dos que são loucos por sonharem, porque daqueles “inteiros” e “lúcidos”, eu não acredito mais. Apenas terminando, eu espero que você encontre ao menos o seu próprio ponto necessitado de mudança, e que o cutuque bem cutucado.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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2 comentários:

  1. Bah, Camila. Baita texto! Não tens ideia, talvez, da importância dessas palavras para mim. Como tu mesmo escreveu, nos acomodamos às vezes, mas sou um cara que deseja mudar o mundo. É claro que "mudar o mundo" é algo grandioso demais, mas mesmo assim continuo desejando isso. E é essa uma das razões pela qual escolhi cursar jornalismo, porque vejo nessa profissão a possibilidade de ajudar a mudar as coisas. E repito, foi ótimo ler esse texto. Vejo que a vontade de mudar - seja mudar a si mesmo, a sua casa, o bairro ou o mundo - ainda existe em alguns. Não estamos sozinhos. Temos eu, você, John Lennon e mais alguns "loucos". De fato, nada está perdido... :D

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  2. É verdade, Pedro... De vez em quando a gente acha que tá sozinho, que é loucura ficar achando que dá pra mudar algo e fazer melhor, mas dá sim, dá pra ser um pouco louco e colaborar... E tomara que sempre existam esses loucos. Muuito obrigada de verdade e fico feliz demais que tenha sido importante pra ti! Não tenho dúvida do baita jornalista que tu vais ser hehe :D

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