De mãos dadas


Você já refletiu sobre tudo que está segurando quando está de mãos dadas com alguém? Pode ser amigo, namorado, familiar, não importa. Dar as mãos deveria ser um gesto além do que ele realmente é. Antigamente, lá no tempo em que até o beijo só existia depois do casamento, dar as mãos era uma vitória. Tocar o outro, sentir a textura da pele, a força, o suor de nervosismo, o balançar alegre, os dedos inquietos... Há mil sensações naquele contato entre duas mãos. Um casal andando de mãos dadas é normal, amigos virou suspeito e com os pais é vergonhoso após certa idade. Que significado há então? Onde fica a responsabilidade de segurar o mundo da outra pessoa? Porque quando você segura a mão de alguém, deveria significar isso: você está segurando o mundo dela. E segurar o mundo de alguém é um comprometimento diferenciado.

Carlos Drummond de Andrade já dizia “Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”. De mãos dadas tudo fica mais fácil, mais bonito, mais suportável. De mãos dadas dividimos histórias, medos, aflições e alegrias. De mãos dadas viramos parte do outro. De tanto segurarmos mãos sob promessas eternas que acabam no dia seguinte, não reconhecemos o quão ingênuo e confidencial esse gesto quase não percebido pode ser. Quando alguém que você ama está chorando, você estende a mão para mostrar que o outro não está sozinho. Quando alguém que você ama está com dor, você estende a mão para apertarem forte e mostrar que aquela dor também é sua e trazer alívio. Ao longo da nossa vida estendemos a mão para mostrarmos que não se vive sozinho.

Pergunte a um casal gay que não pode sair de mãos dadas na rua o quanto isso é importante. Se preferir, pergunte então a uma criança que ainda não sabe atravessar a rua sem estar segurando a mão de seus pais. Pergunte também a dois amigos que estejam anos sem se verem ou pessoas que perderam alguém muito querido – principalmente um pai, mãe ou filho. Saia perguntando aos “impedidos de dar as mãos” e descobrirá que isso que você faz todo o dia, é muito mais do que parece. É apoiar, é dizer que ama, é gritar para o mundo que nenhum mal atingirá aquela pessoa sem você esteja ali por ela. Normalmente, quando alguém puxa minha mão inesperadamente para sair andando, minha reação é puxar de volta se a pessoa não tiver certo grau de importância para mim. É uma atitude quase automática, porque eu não consigo compartilhar aquele rápido gesto com alguém que não tenho sentimentos tão intensos e cúmplices. Parece bobagem, mas eu sempre dou bola para essas bobagens simples, não ligue.

Dar as mãos é proteger e se sentir protegido. É nunca mais querer soltar. Por esse e por muitos outros motivos ocultos, cuide quem aperta firme a sua mão. Cuide quem distraidamente faz carinho em você enquanto entrelaça suas mãos. Cuide quem quer mostrar que cuida de você também. Cuide mais ainda quem segura suas mãos com a intenção de soltar fácil. Hoje, quando você encontrar seu namorado ou sua namorada e der as mãos para sair caminhando, pense no quão bonito e verdadeiro é aquele momento. Hoje, quando você segurar a mão de alguém que chora ou simplesmente para dormir, pense em tudo de bom que um está passando para o outro naquele contato de peles.

Com o “eu te amo” tão banalizado, dar as mãos virou a nova forma de declarar nossos amores. Não vá deixar que isso se perca ou que mãos erradas lhe deixem cair. Você sabe que não é todo mundo que está disposto a segurar o seu mundo.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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