Quando os muros caem



Quando eu era criança passava muito tempo em casa sem os meus pais, apenas com o meu irmão mais velho e alguma empregada. Quando enjoava de brincar no meu quarto ou me sentia sozinha demais, ia para o quarto do meu irmão e ficava lá. Podia ficar somente deitada na cama sem falar nada e assistindo o que ele quisesse na televisão ou até o vendo jogar vídeo game, mas eu precisava estar ali me sentindo protegida. A casa era minha primeira proteção, e o quarto do meu irmão com a presença dele, a segunda. Eu era pequena e aqueles eram os “muros” que me protegiam do mundo lá fora; nada mais normal para uma criança. Enfim, segui a ordem natural da vida e cresci. Tive que indo aos poucos para o lado de fora daquele muro, daquelas proteções e abrigos.

A vida vai exigindo mais e nos mostrando que nem sempre vivemos em um mundo colorido onde tudo dá certo. Conhecemos a decepção, a mentira, o lado ruim das pessoas e percebemos que nem todos os esforços do mundo nos livrarão de errarmos e chorarmos. Porém, não dá mais para ir correndo à cama dos pais ou se esconder dos monstros imaginários com várias cobertas. Quando viramos "gente grande", aprendemos que é preciso dar as caras, encarar, vencer os medos e os monstros que agora são de carne e osso. Sempre nos avisaram que o bom era ser criança a vida toda, mas nós, nessa desenfreada pressa de crescermos, nunca acreditamos. Agora, é você quem sabe: ou se esconde ou encara a vida. E encarar a vida tem lá os seus pontos positivos.

Ao longo dessa montanha-russa louca que é viver, encontramos muita coisa que vale a pena no caminho. Criamos nossas raízes e vivemos a procura de lugares seguros para fixa-las, cada vez mais certos de que o mundo é pequeno para os nossos sonhos e grande para as nossas inseguranças. Vamos mundo a fora desprotegidos, sem colo para chorar e mão para apertar. Brincar de ser adulto já não é tão bom assim. Parece que quanto mais crescemos, mais perdemos o jeito de pedir ajuda e fraquejar de vez em quando. Precisamos sempre manter a postura firme, como se cada desafio fosse só mais uma diversão. Mas não é bem assim que tudo funciona dentro de nós. Volta e meia olhamos para trás e só queremos o aconchego seguro da nossa infância, o lugar qualquer que nos passe um pouco de tranquilidade.

Os muros caem e a vida nunca é fácil. Eu só consigo pensar assim: o que vem fácil, vai fácil. Sendo assim, que tudo seja bem difícil! Que dê uma vontade enorme de chorar, que eu me perca e pense em desistir, que queira voltar correndo para o colo da minha mãe porque essas porradas da vida doem demais, mas que valha a pena! Que no fim tenha aquela recompensa boa e do tamanho do meu merecimento. Isso é tudo o que encontramos além das paredes da nossa casa, além da nossa infância protegida e dos abraços, beijos e mimos que ganhávamos. Ninguém nunca sabe o que vai encontrar no mundo. Dá um medo correr tantos riscos e não poder mais chorar para ganhar um simples doce. Frente à vida, tudo o que resta é encarar. Pelo menos é assim que eu prefiro agir. No fim das contas, não existe nada melhor do que saber que não importa a idade, nem as circunstâncias, a vida da gente tem um ponto de paz nos esperando em algum lugar do mundo.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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