A história deles contada por ela

Vou lhe dizer como eu gostaria que tivesse sido a nossa história. Não que você vá me ler ou que nosso destino vá mudar. Mas há em mim uma súbita vontade de nos imaginar. Porque idealizar um amor, também é amar.
Começamos naquele fim de festa. A música era boa, o lugar também e as companhias mais ainda. O problema era eu. Bebida nenhuma me convenceria a querer ficar. Por isso, fui. Achando que a noite acabaria ali e que todas as possibilidades haviam se encerrado. Não esperava por você. Não esperava ter que pegar aquela rua fria a caminho de casa para tropeçar com você na esquina. Você, definitivamente, não estaria nos meus planos. Eu te olhei rápido e, por algum motivo desconhecido, olhei novamente. Amor à segunda vista, para não sermos tão clichês. E você também me olhou duas vezes com esses olhos brilhantes, o cabelo loiro, um sorriso nos lábios, uma cerveja na mão e algumas palavras enroladas para os seus amigos que já iam à frente. Acontece que quando eu te vi ali na minha frente, eu nos imaginei lá adiante. Depois do nosso segundo olhar, eu parei. Não consegui mais seguir. É como se seguir sem você fosse impossível. Mas era totalmente possível, meu Deus! Não precisei de você até hoje, que maldita ideia é essa de precisar agora sem nem saber seu nome ainda? Você também não seguiu. Deu as costas para os seus amigos e jogava o meu jogo qualquer de troca de olhares.
Olhando atentamente, você era tão bonito. Dava uma ansiedade no peito por descobrir qual era o segredo do seu sorriso. Os outros homens todos sorriem, mas não assim, tão bonito como você. E sorria confiante como se conhecesse cada detalhe meu. Despia a minha alma num olhar. Você valia todos os sonhos, as idealizações e os devaneios. Você, com esse olhar tão firme, valia noites em claro, verões sem sol, as chaves da casa e do coração, crises de ciúmes, primaveras sem flores e um lugar quentinho do lado direito da minha cama que vive vazio. Você valia um mundo inteiro desconhecido. Eu sabia que sim, o seu olhar era verdadeiro demais para conseguir me enganar. Além do mais, eu conhecia muitos olhares enganadores, mas o seu? Não, não havia nenhum igual. Mas não poderíamos travar uma guerra de olhares eternamente. Desse jeito nunca aconteceríamos. E precisávamos acontecer.
Você perguntaria para que lado estou indo. Eu diria que vou por ali, para casa. Você diria que também quer ir para casa. Eu diria que tudo bem, era só pegar o seu caminho. Você diria que quer é ir para a minha casa. Eu diria "então vem comigo". Louco, não acha? Você poderia ser um assaltante, psicopata, qualquer coisa. Mas você era só o homem dos meus sonhos. E eu era a mulher que você queria apresentar aos seus pais. “Bregamente” simples assim. Ainda que as nossas palavras naquele momento fossem curtas e vagas, nossos pensamentos já estavam muito longe.
O resto da nossa história é segredo. Eu deixo para você nos imaginar um pouco também. O que bastava saber, é que fomos felizes desde o segundo olhar. Na verdade, acho que fomos desde o primeiro, quando nos conhecemos. O segundo foi apenas para nos reconhecermos. E eu teria descoberto, então, que nem todas as festas do mundo me trariam você, senão o fim da mais tediosa de todas. E você sentiria que era muito melhor um anel na minha mão do que cervejas durante a madrugada na sua. Nossa história tinha tudo para ser ocasionalmente perfeita. Apenas esqueceu-se de acontecer. Perdoe-me. Eu também sentirei falta de te conhecer, te viver e reviver.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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